Privacidade de dados: o quanto seu celular sabe sobre você?
Algoritmos, sistemas operacionais, dados… nem todos entendem a lógica das redes, internet e tecnologia. Entenda como os seus dados estão sendo utilizados e sobre privacidade de dados:
Quanto maior se torna a tecnologia e a internet, mais devemos pensar em segurança, proteção e privacidade de dados digitais. Enquanto estamos disponibilizando os nossos dados de maneira gratuita, algumas empresas provavelmente estão lucrando.
Uma história que não é velha é a de que os nossos celulares nos escutam e, assim, melhoram o direcionamento de suas propagandas. Mas seria isso verdade? A utilização dos dados como gravações de voz para fins de propaganda pode não ser uma coisa muito legal quando os usuários não autorizam ação.
Algoritmos e propaganda
Os anúncios estão se tornando altamente personalizados, nos entregando exatamente o que procuramos. Como isso acontece?
Na verdade, quando utilizamos a internet deixamos centenas de rastros digitais, seja no histórico de navegação ligados a nossa conta, ou até mesmo os likes em uma foto. Isso porque, quando utilizamos uma rede social, o serviço não é oferecido completamente gratuito. Em troca do entretenimento, nós ofertamos nossos dados, e assim as redes ofertam espaços para anunciantes que mais se parecem conosco, num trabalho feito pelos algoritmos. O desconhecimento desse funcionamento por boa parte dos usuários pode levar a confusão e até ao abuso.
Esta é, então, a principal motivação pela qual uma rede social teria interesse nas suas conversas: melhorar o direcionamento dos anúncios. Melhorar essa experiência e direcionamento é a razão de toda a coleta e gravação de dados. Porém os serviços conectados a aplicativos podem acessar componentes do seu celular apenas com consentimento, através das permissões que você dá ao aparelho.
Por isso, um erro continuamente repetido pelos usuários é não ler os termos de uso dos aplicativos. Eles funcionam como um contrato, então se deve ter cuidado ao que você está aceitando. As permissões muitas vezes são necessárias para que os aplicativos possam realizar as funções quando desejado. Por exemplo, se você não autorizar o Instagram a utilizar o microfone, provavelmente seus vídeos não terão áudio. Porém, falhas de segurança podem acontecer nas plataformas.
Quem está me escutando?
Há um ano, Apple e Google admitiram que seus funcionários tinham acesso a gravações de usuários dos sistemas Android e iOS. Seus áudios ficavam guardados nos servidores das empresas sempre que se utilizava o comando de voz. Entretanto, apesar de prometerem não mais permitir que os usuários tenham acesso, os áudios continuariam guardados nos servidores para ajudar a tornar os celulares mais inteligentes.
Como você se sentiria ao saber que um estranho estaria escutando uma conversa sua? No caso da Apple, eram contratados funcionários terceirizados para analisar interações com a Siri. A Alexa, assistente virtual da Amazon, grava áudios quando se aciona a palavra de ativação. As gravações podem ser transcritas para melhorar o entendimento da Alexa e padrões de fala humanos, que é o que também acontece com o Google Home. Porém, a gravação não acontece a não ser que você utilize a palavra de ativação. Caso contrário, apenas em falhas da plataforma – como por exemplo, o sistema confundir com outras palavras e ser ativado sem querer.
Histórico problemático do Facebook
Apesar do Facebook afirmar que seu aplicativo não escuta os usuários para veicular anúncios, em 2019 foi descoberto que o ele estava contratando pessoas transcreverem áudios de usuários de mensagens dos seus usuários. Segundo a Bloomberg, estas pessoas estavam recebendo áudio sem nenhum contexto de como foram obtidos. O Facebook afirmou que os usuários afetados teriam concordado em ter suas mensagens de voz do aplicativo Messenger transcritas.
O Facebook tem um histórico problemático com a proteção e privacidade de dados. Aliás, um caso que ficou muito conhecido e foi para a justiça americana é o caso do Cambridge Analytica, em que informações de mais de 50 milhões de pessoas foram utilizadas sem o consentimento pela empresa americana para fazer propaganda política.
Porém, o Facebook provavelmente não é o único te escutando através do smartphone. O Safari também pode ter acesso ao seu microfone e câmera. Para bloquear o acesso, você deve alterar a configuração manualmente. Ela serve para facilitar a navegação, mas pode gerar um problema de privacidade ou segurança, principalmente por não ser um acesso diretamente solicitado.
Além disso, seus dados ficam nas núvens, armazenando seus dados e informações do dispositivo. Ou seja, se o seu aparelho for destruído as informações continuam disponíveis. Um bom exemplo é o Google, que você pode acessar em myactivity.google.com, visualizando todas as suas informações armazenadas. Lá estão todos os lugares que você já esteve (com o celular), trajeto durante o dia, pesquisas, fotos, vídeos, além de poder ver todas as personalizações que eles fazem baseado em suas pesquisas.
Apple x Facebook na privacidade de dados
Um grande diferencial da Apple é o seu cuidado na proteção e privacidade de dados. Todos os desenvolvedores que criam aplicativos para iOS oferecem três opções ao dono do aparelho: permitir o acesso ao microfone sempre, nunca, ou só quando o aplicativo estiver aberto e funcionando. No seu caso, também não existe um registro das buscas realizadas por voz, porque o sistema Siri não está associado ao ID (conta) do usuário.
De acordo com o anúncio do Facebook, o novo sistema operacional da Apple pode prejudicar a capacidade da rede social exibir publicidade direcionada aos usuários do iPhone quando eles estiverem utilizando apps de terceiros. Isso afetará a Audience Network, unidade do Facebook que vincula as identidades de usuários as atividades que eles conduzem fora da plataforma.
O iOS 14 visa, então, a proteção a privacidade dos usuários. A Apple critica a operação de coleta de dados que embasa os negócios de publicidade do Facebook. O Facebook anunciou que as mudanças resultariam na queda do seu faturamento.
Dados em questão no Brasil
Claramente a discussão da proteção e privacidade de dados está em constante discussão. Com todos os avanços na lógica da internet como vimos acima, também é necessário estabelecer ordem. Após 8 anos de debates e redações no Brasil, no dia 14 de agosto de 2018, o presidente Michel Temer sancionou a Lei Geral de Proteção de Dados do Brasil – Lei 13.709/2018. Tudo indica que a lei entrará em vigor até dezembro de 2020, e as empresas terão até 18 meses para se adaptarem.
A nova lei afeta como as empresas e organizações captam, armazenam e utilizam dados de seus clientes, online e offline.
Sobretudo, a legislação se inspira na GDPR (General Data Protection Regulation), que entrou em vigor em 2019 e regulamenta a questão em países europeus. A ideia é que as empresas busquem utilizar métodos mais limpos e naturais para alcançar pessoas.