Empresas de tecnologia focam em P&D contra crise
Pesquisa mostrou que gasto em processos tecnológicos e soluções superou os US$ 250 bilhões em 2020
O mundo dos negócios depende cada vez mais da tecnologia e a pandemia de Covid-19 reforçou isso com muita clareza. Foi na urgência do isolamento social que separou empresas de colaboradores, com estes últimos passando a trabalhar em home office, que a questão da inovação, com investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), se mostrou a chave para driblar momentos de crise e perda de competitividade.
Isso é reforçado pela pesquisa da Harvey Nash/KPMG CIO 2020, que ouviu 4,2 mil líderes de TI de 83 países. O levantamento mostrou que o gasto em processos tecnológicos e soluções dessas empresas juntas superou os US$ 250 bilhões, perto de US$ 15 bilhões a mais, por semana, durante a primeira onda da crise sanitária, em 2020. É um dos maiores investimentos em tecnologia dos últimos anos.
Dados do European Structural and Investiment Funds indicam o potencial da tecnologia para as empresas, com um olhar particular na União Europeia. Entre 2014 e 2020, os fundos estruturais voltados para inovação e pesquisa têm um orçamento estimado de 40,2 bilhões de euros. Apenas em 2019, antes mesmo do início da pandemia, o aumento médio de investimentos com P&D chegou a 8,9% em relação a 2018. O crescimento global de P&D foi impulsionado pelos setores de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e Saúde.
No Brasil, é crescente o número de empresas que apostam na P&D como uma das principais estratégias de competitividade, aumento do portfólio, gerar receita, garantir sustentabilidade.
Tecnologia no campo
O agronegócio está no centro da economia brasileira – no último ano, o setor cresceu na ordem de 2%, mesmo com o PIB nacional caindo em 4,1%. Em grande parte, os resultados vêm do investimento em tecnologias, como as desenvolvidas pela divisão de Agricultura da Hexagon, sediada em Florianópolis (SC).
A empresa, que fornece soluções inovadoras para uma agricultura digital, faz parte da multinacional Hexagon AB, líder global em soluções autônomas de sensores e softwares. Para se manter à frente no mercado, em 2020, a companhia global investiu 13% das suas vendas líquidas em P&D; cerca de 500 milhões dos 3,8 bilhões de euros de receita no último ano.
“O compromisso com P&D é uma das grandes prioridades da Hexagon, que quer se manter como um dos fornecedores mais inovadores do setor. O alto percentual investido na área é importante não apenas para melhorar e adaptar os produtos existentes, mas também para a criação de novas soluções com tecnologia de ponta”, comenta o presidente da divisão de Agricultura, Bernardo de Castro.
Além do investimento anual em P&D, a Hexagon conta com mais de 5 mil colaboradores na área, o que corresponde a 25% do quadro de funcionários da multinacional. São mais de 4 mil patentes ativas e de 150 aquisições para fortalecimento do portfólio, que também envolve segmentos como o de geossistemas, mineração, geoespacial e manufatura.
Inovação no controle de geração de energia
A REIVAX Automação e Controle, multinacional brasileira presente em mais de 40 países e líder no fornecimento de equipamentos para controle da geração de energia na América Latina, já colhe bons resultados a partir do aperfeiçoamento de suas soluções e na criação de novos produtos.
Com faturamento anual acima de R$ 60 milhões, a companhia mantém desde 2002 uma área específica de P&D. Até 2020, o investimento em pessoal de P&D respondia a cerca de 15% da folha de pagamento da empresa. Neste ano, a fatia será maior e a capacidade produtiva deve ser ampliada em 10% para atender as demandas contratadas.
“Hoje, 100% do nosso faturamento vem do nosso desenvolvimento próprio e da conexão com os ecossistemas de inovação e energia. A REIVAX é genuinamente formada em pesquisa e desenvolvimento e suas soluções são customizadas para cada cliente. Desenvolvemos e fabricamos hardwares e softwares únicos e o investimento em P&D é um dos co-responsáveis pela expansão do nosso portfólio e internacionalização”, afirma Fernando Amorim da Silveira, CEO da REIVAX.
Como benefício mais recente, em abril, a empresa anunciou a entrada no mercado de energias renováveis com o lançamento de uma solução exclusiva para o controle energético em usinas solares fotovoltaicas, o PPCx. O segmento deverá representar cerca de 25% do faturamento da empresa até 2025.
Foco em IoT para a Saúde
Na área da Saúde, a Sensorweb de Florianópolis (SC) — especialista em soluções de IoT no segmento Healthcare — vem aplicando recursos em P&D para ampliar seu portfólio no mercado de monitoramento de temperatura para cadeia fria da Saúde em hospitais e clínicas, bancos de sangue, laboratórios e operadores logísticos farmacêuticos.
Com faturamento superior a R$ 5 milhões em 2020, a startup investe anualmente cerca de 15% de suas receitas em pesquisa e desenvolvimento. Para 2021 o aporte na área deve atingir 20% do faturamento, isso porque a empresa estima crescer na ordem de 50% no ano. Além disso, trabalha no desenvolvimento de três projetos que contam com mais de R$ 2,6 milhões de subvenção vindos de editais de fomento à inovação.
“Mantemos uma área de P&D ativa e estamos evoluindo para a criação do Sensorweb Insights, estimado em R$ 2,3 milhões, onde estamos criando uma área de inteligência artificial aplicada à Internet das Coisas que, futuramente, vai impactar na criação de novos produtos. Esse é o futuro que estamos construindo para manter nossa história pioneira e a confiabilidade conquistada no setor”, destaca Douglas Pesavento, CEO da Sensorweb.
Tecnologia preditiva para energia eólica
A AQTech, empresa que desenvolve ferramentas para monitoramento e diagnóstico de ativos dos setores de energia hidráulica e eólica, investe em pesquisa e desenvolvimento tecnológico desde a sua criação. Nos últimos quatro anos, no entanto, o aumento exponencial da dinâmica tecnológica e a demanda constante por inovação no portfólio fez com que a AQTech intensificasse os investimentos em P&D para tornar o ciclo de inovação mais ágil. No período, a empresa aumentou mais de 500% o investimento de recursos próprios nessa área, chegando a R$3 milhões em 2020.
O investimento em pesquisa e desenvolvimento foi um dos principais fatores para o crescimento da empresa nos últimos anos, com faturamento aumentando de R$1,5 milhão em 2016 para R$23 milhões em 2020. “O investimento em inovação nos permitiu aprimorar as soluções já existentes e ampliar o portfólio da AQTech, o que nos permitiu conquistar novos mercados e clientes, resultando no aumento exponencial do faturamento”, explica Sylvio Ramos Filho, CEO da empresa.
O exemplo mais recente disso é o OneBreeze, ferramenta inovadora criada pela área de pesquisa e desenvolvimento da AQTech que permite o monitoramento e diagnóstico de problemas em aerogeradores. A solução coleta dados como vibrações, acústica, qualidade do óleo e temperatura e integra as informações em um único sistema capaz de monitorar e diagnosticar defeitos em turbinas eólicas. A inovação permitiu a entrada da empresa no crescente mercado de geração de energia eólica.