Como a Peixe Urbano entrou na mira do Procon
Serviço de cupons está fora do ar desde 2020; em off, ex-executivo diz que empresa deve quase R$ 50 milhões
Conhecido por seus cupons de descontos em restaurantes, cinemas e viagens, o Peixe Urbano entrou na mira do Procon na última semana. O aplicativo da empresa está fora do ar desde o início do ano passado, quando simplesmente a interface parou de funcionar. Com isso, usuários ficaram com seus cupons inoperantes, sem a possibilidade de resgate, enquanto empresas parceiras do Peixe Urbano não conseguiram resgatar as comissões.
O Procon-SP, nesse ínterim, recebeu uma enxurrada de reclamações. Em 2020, foram 297 reclamações registradas no Procon-SP, com índice de solução de 71%. Nos quatro primeiros meses de 2021, esse número já saltou para 328 reclamações e taxa de solução de 33%. Com isso, a entidade de proteção ao consumidor colocou o Peixe Urbano na lista de marcas a serem evitadas. São aquelas que, geralmente, não cumprem com suas obrigações e negócios.
Apesar dos insistentes contatos da reportagem do DCI, o Peixe Urbano não retornou os questionamentos a respeito do serviço. O CEO Nicolás Leonicio não visualizou as mensagens da reportagem, enquanto o fundo de investimentos mexicano Mountain Nazca, que comprou as operações do Peixe Urbano em 2017, também não respondeu aos contatos.
O que aconteceu com o Peixe Urbano
A empresa, que chegou a ter o apresentador Luciano Huck, o banco americano Morgan Stanley e a gigante de tecnologia chinesa Baidu como sócios ou proprietários, passou os últimos anos enfrentando uma crise de identidade. Depois de começar o negócio como um marketplace de cupons para desconto em produtos em 2010, a moda das compras coletivas começou a cair. Com isso, o Peixe Urbano encontrou refúgio em descontos em serviços.
Assim, desde a segunda metade da década de 2010, o Peixe Urbano se equilibra na corda bamba oferecendo descontos em restaurantes, salões de cabeleireiro, manicures, viagens e afins. Um ex-executivo do Peixe Urbano que conversou com o DCI em off disse que as contas da empresa começaram a trazer os primeiros problemas mais sérios já em 2019. Segundo ele, pagamento de pessoal e a operação do escritório não “fechavam a conta”.
Em 2020, com a chegada da pandemia do novo coronavírus, o problema se acentuou. De acordo com informações do UOL e do executivo ouvido pelo DCI, a empresa começou a pagar metade do salário para seus funcionários logo no início do ano. Conforme reportou o jornal O Globo, outro problema: não tinha dinheiro para pagar a demissão dos funcionários. Até o momento, colaboradores do Peixe Urbano se encontram sem alternativas na empresa.
Sistema fora do ar
Assim, sem sistema para pagar os funcionários e sem ter como manter a operação em pé, o Peixe Urbano saiu do ar ainda em 2020, apesar de a empresa dizer nas redes sociais que é “apenas uma instabilidade”. O executivo ouvido pelo DCI que não quer ser identificado confirma que essa estratégia de falar de problemas técnicos surgiu como uma necessidade de evitar processos logo quando a operação estava desmoronando e o CEO, Nicolás Leonicio, tentava “apagar o fogo”.
Hoje, um ano depois do vendaval que varreu o Peixe Urbano, nada sobrou. Os escritórios da empresa no Rio e em São Paulo foram fechados e a sede de Florianópolis foi alvo de despejo. O escritório de advocacia que representava o Peixe Urbano deixou de ser pago em março do ano passado, com o sumiço dos executivos. Além disso, há uma estimativa de que a empresa estaria com um dívida de quase R$ 50 milhões com usuários e estabelecimentos comerciais.
Questionado sobre como a empresa chegou a essa situação, o executivo disse que havia uma proposta, ainda em 2019, de injetar capital no Peixe Urbano, mas não confirmou, porém, se seria um investimento do próprio Mountain Nazca. O negócio, no entanto, que acabou sendo empurrado para o início de 2020, não se concretizou conforme a pandemia avançava. Com isso, a operação “quebrou”, sem suporte aos clientes e estabelecimentos.