Último Fies antes de mudança terá concorrência gigantesca
Para o Semesp, alterações em 2018 devem inviabilizar Fies após crise; entidade não vê ambiente político para governo voltar atrás em comissão.
São Paulo – O último semestre do modelo atual do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) será marcado pela concorrência: dos 6,1 milhões de candidatos confirmados no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), cerca de um terço deve pleitear vaga no programa – que ofertará 75 mil vagas no semestre. Preocupante, o cenário deve piorar a partir de 2018, quando as novas regras para o programa sugeridas pelo Governo (via MP 785/2017) começam a valer. “No ano que vem teremos no máximo 100 mil no modelo atual, com outras 200 mil funcionando de uma forma que ninguém sabe como vai ser, usando fundos patrimoniais e com financiamento bem menor. Será um sistema bastante perverso”, afirma o diretor-executivo do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp), Rodrigo Capelato, alertando para o fim da “lógica social” do Fies.
Caso todas as 75 mil vagas deste semestre sejam ocupadas (o que não é garantido visto as condicionantes de renda e nota no Enem) o Fies deve fechar 2017 com 193 mil vagas distribuídas; no ano eleitoral de 2014 o programa chegou a disponibilizar 733 mil. A chamada ‘crise do Fies’ começou em 2015 com o endurecimento das regras para liberação do subsídio; o modelo atual, contudo, pode deixar “saudades” entre as instituições participantes a partir do ano que vem. “Mesmo as 100 mil [no modelo atual] terão mudanças, como a carência [de 18 meses para amortização pelo aluno, que termina] e o valor que a instituição tem que pagar o fundo garantidor, que dobra de 6,25% da mensalidade para 13%, desestimulando a participação”, afirma o diretor do Semesp. As mudanças sugeridas estão em análise de comissão parlamentar mista, mas Capelato não vê ambiente político para o Governo voltar atrás. “Não há perspectiva para retomada no curto prazo. Do jeito que está, nem quando a economia melhorar o Fies volta a crescer”.
Menor evasão entre alunos do Fies
O Semesp apresentou ontem (28) o balanço do ensino superior nacional em 2015. Entre os pontos principais está o aumento de 15,5% no número de concluintes na rede privada, que passou de 789 mil no presencial/EaD em 2014 para 912 mil em 2015. Considerando o triênio que vai de 2013 a 2015, o percentual de concluintes em famílias com renda até três salários mínimos representou 40,3% dos formados, contra 32,2% no triênio 2010/2012. Por outro lado, confirmou-se queda de 8,4% nos ingressos na rede privada (2,3 milhões de alunos em 2014 para 2,2 milhões há dois anos). Também houve aumento de 0,7 pontos percentuais na taxa de evasão dos cursos presenciais (para 28,6% em 2015), apesar da saída ser menor entre alunos do Fies [ver info]. No EaD a evasão passou de 32,5% em 2014 para 34,2% em 2015.
Já a taxa de escolarização líquida (ou os jovens entre 18 e 24 anos no ensino superior) bateu 18,1% – percentual considerado baixo. “Na Argentina é mais de 30%. No Chile, mais de 40%”, afirma Capelato. A meta é do País é atingir 33% até 2024. O Brasil encerrou 2015 com 6,08 milhões de matriculados na rede privada e 1,9 milhão na pública; não há dados de 2016 consolidados, mas estimativa da Hoper Educação prevê queda para 5,95 milhões na privada e aumento para 2 milhões na pública.