Novos preços do petróleo ameaçam o mundo árabe
A maldição dos recursos naturais chegou ao mundo árabe com o preço do barril de petróleo em cerca de USD$ 40. As pressões econômicas e sociais de curto prazo precisam de resposta imediata, enquanto as reformas não produzem economias mais produtivas, mais diversificadas e mais verdes.
A riqueza do mundo árabe lastreado no ouro negro está sob ameaça. Com a queda do preço do barril de petróleo para cerca de USD $40, muitos países do Oriente Médio e Norte da África passam a apresentar déficits orçamentários. As reações dos diversos governos são drásticas, incluindo: corte de gastos governamentais, redução de salários, aumento de impostos, e aumento de taxa de juros para financiar dívidas governamentais com classificação de riscos rebaixadas. Os riscos adiante colocam o mundo em estado de alerta.
Fontes renováveis vs. combustíveis fósseis
A pandemia reduziu a demanda e levou o preço do petróleo ao seus níveis mais baixos. Uma pequena recuperação foi percebida com a reabertura do comércio, mas ainda distante dos níveis de demanda anteriores. Para piorar a situação, as economias estão se afastando dos combustíveis fósseis. As fontes renováveis de energia, como por exemplo, solar e eólica, aumentam sua competitividade a cada dia. Nesse sentido, muitos especialistas apostam que o mundo entrou em uma nova era de preços baixos do petróleo.
“Visão 2030” chegou antes
Diferentes lideranças árabes já percebiam o novo cenário e divulgaram suas visões e planos de futuro. O dirigente da Arábia Saudita, Muhammad bin Salman, anunciou 4 anos atrás sua “Visão 2030” para uma economia sem petróleo. Nesse sentido, investimentos vultuosos em energia solar foram realizados, produzindo as maiores usinas solares do planeta e atingindo recordes de menores custos de geração solar. No entanto “2030 se tornou 2020”. As receitas do petróleo da região caiu de USD$ 1trilhão em 2012 para USD$ 575 bilhões em 2019.
Claramente, as regiões produtoras mais abastadas podem aguentar os preços baixos do petróleo no curto prazo. Quatar, Emirados Árabes e Arábia Saudita dispõem de gigantescos fundos soberanos e reservas estrangeiras suficientes para cobrir 2 a 3 anos de gastos atuais. Infelizmente a pandemia piorou ainda mais a situação deficitária e a desvalorização cambial atingiu a renda da população nesses países que importam praticamente tudo.
Parecido com o Brasil, a aposta está nas reformas
A aposta é na aceleração da agenda de reformas para tornar as economias mais diversificadas e mais produtivas. Economias árabes estão discutindo ondas de privatização, por exemplo, a maior planta de dessalinização do mundo está a venda. No entanto, agenda de austeridade com aumento de impostos, impactam ainda mais os orçamentos da camada mais pobre da população. Protestos contra a liderança governamental começam a se espalhar nas ruas. O dinheiro do petróleo não consegue mais comprar a fidelidade da população. Novas crises em uma área crítica da geopolítica global estão no radar. O fim da era do petróleo pode contribuir com a agenda contra mudanças climáticas. No entanto, muita dor e sofrimento devem chegar antes.