A revista Nature, referência no tema de mudanças climáticas, publicou recentemente um estudo que revela o impacto e as lições da COVID-19 no setor de energia mundial. As emissões globais de CO2 caíram drasticamente com a redução da economia e queda do consumo de energia. As usinas térmicas intensivas em combustíveis fósseis foram prioritariamente desligadas. Esses efeitos ilustram a oportunidade para diferentes políticas que possibilitem uma transição da matriz elétrica global.
A transição iniciou-se antes da pandemia do COVID-19
Antes mesmo da pandemia do COVID-19, o setor elétrico já apresentava importantes passos na direção das fontes renováveis. O crescimento da energia solar e eólica em todos os continentes é marcante na última década. Além disso, esse crescimento acelerou nos últimos anos devido a queda no custo das tecnologias de geração e a melhoria de performance dos equipamentos.
As lições da COVID-19 para uma nova matriz elétrica
Os dados apontam que uma queda moderada de consumo de eletricidade pelas industrias e comércios produziu um forte impacto nas emissões do setor de geração elétrica. Mergulhando nos dados, observamos que India, EUA e Europa são responsáveis por 34% das emissões de CO2 globais. Esses países reduziram o consumo de eletricidade em 20%. No entanto, as emissões de CO2 do setor elétrico caiu até 50%!
A razão está na matriz elétrica com diferentes fontes de energia. Assim, quando o consumo cai, as usinas de maior custo são desligadas primeiro. Nesse sentido, as plantas baseadas em combustíveis fósseis – carvão, óleo combustível e gás natural – pararam de funcionar por serem mais caras. Enquanto as fontes renováveis, como energia solar e éolica, com baixo custo de geração, prosperaram mesmo na pandemia.
O carvão vem perdendo competitividade frente às renováveis e tanto países como regiões estão optando por fechar as usinas. Assim, a pegada de carbono – emissão por kWh – vem caindo e a pandemia só acelerou um pouco mais esta transição.
O que esperar para 2021 em diante?
As projeções são favoráveis. Nesse sentido, espera-se uma redução anual das emissões de cerca de 7%.
O avanço dos investimentos em geração de baixo carbono – solar, eólica, nuclear e hidrelétrica – é evidente. Seu crescimento para atender a crescente demanda de energia elétrica torna a matriz cada vez mais limpa. De fato, a questão está no ritmo de crescimento. Se a velocidade de expansão da capacidade solar e eólica acontecer em ritmo igual ou superior da demanda de eletricidade, estamos no caminho certo. O desafio pode ser maior com a entrada dos carros elétricos.
Políticas públicas que incentivem os investimentos nas fontes renováveis devem ser cada vez mais frequentes. Nesse sentido, o fortalecimento de políticas de preço de carbono e eliminação de subsídios para combustíveis fósseis ganham força. Enfim, estudos indicam que um preço de carbono de $ 20 dólares a tonelada de CO2 já criam efeito positivo para reduzir emissões.