Chegamos ao fim da era do petróleo?
As fontes renováveis pedem passagem e entregam benefícios econômicos, ambientais, sociais e geopolíticos com a substituição do petróleo
O petróleo moveu o século 20. Influenciou a liberdade das pessoas, as guerras, as economias e as geopolíticas. No entanto, tudo indica que a transição para uma nova era de energia limpa está mais próxima. A crise econômica gerada pela pandemia acelerou o processo. Nesse sentido, o consumo de petróleo caiu mais de 20%, os preços despencaram e poucos acreditam em uma recuperação completa.
Sinais de novos tempos
Sinais marcantes dos novos tempos são notórios. De um lado, vivenciamos a saída da ExxonMobil do índice Dow Jones. De outro lado, as ações de empresas de energia limpa valorizaram mais de 45% em 2020. Além disso, observamos a maior conscientização da sociedade, os planos de recuperação econômica com medidas climáticas, e os compromissos dos países para reduzir as emissões.
As perspectivas da transição para uma nova matriz energética são positivas para a saúde das pessoas e para a estabilidade política e econômica das nações. No entanto, a mudança envolve grandes riscos. Uma mudança lenta aumenta os riscos de eventos catastróficos decorrentes da mudança climática. Enquanto que uma mudança desordenada pode gerar instabilidade política e econômica dos petroestados e aumentar dependência das cadeias de suprimentos-verdes chinesas.
Os benefícios de uma nova matriz energética limpa
Atualmente, os combustíveis fósseis respondem por 85% da demanda energética. Simultaneamente, são responsáveis por 2/3 das emissões e pela poluição que mata mais de 4milhões de pessoas por ano nas grandes cidades. Além disso, o petróleo é fonte de instabilidade geopolítica – os EUA ainda possuem mais de 60.000 tropas no Oriente Médio. As economias dessas regiões não tiveram incentivos para se desenvolver e diversificar. Agora com o preço do barril de petróleo em $40, as pressões internas serão maiores, dado que algumas operações são inviáveis economicamente o preço inferior a $70-80.
Adiante temos uma nova matriz energética. As fontes renováveis devem suprir 50% do consumo global até 2050. A geração de energia zero-carbono deve mitigar os desastres climáticos. A fontes energéticas mais diversificadas devem reduzir as tensões geopolíticas. Além disso, os preços da eletricidade também tendem a ser menos voláteis – sem cartéis – e dependentes de regulações locais e ganhos de eficiência com avanços tecnológicos.
Os riscos presentes na transição
Como mencionado, o domínio chines sobre as cadeias de suprimentos das tecnologias de energia limpa embute um risco. Atualmente, a China produz 72% dos módulos fotovoltaicos mundiais, 69% das baterias de íon-lítio e 45% das turbinas eólicas. Além disso, ela controla o refino de minerais críticos da energia limpa, como cobalto e lítio.
O outro grande risco é a transição dos petroestados, que possuem 8% do PIB mundial e cerca de 900 milhões de habitantes. Nesse sentido, a redução da demanda e do preço do ouro negro impacta arrecadação dos países que precisaram encontrar novas fontes de receitas e um novo equilíbrio de gastos públicos.
Por fim, os riscos mencionados não devem desacelerar a mudança. O risco climático deve ser priorizado e os investimentos precisam aumentar rapidamente. Afinal, a meta de 2°C exige investimentos em energia solar e eólica da ordem de $750 bilhões, 3x superiores ao nível atual.