Consumo de energia deve ter maior recuo em 70 anos, aponta estudo
Estudo do IEA, Agencia Internacional de Energia, aponta uma queda de 6% no consumo mundial em 2020. A maior queda percentual em 70 anos e a maior queda absoluta em todos os tempos.
A pandemia é acima de tudo uma crise sanitária global com profundas implicações econômicas. A forte relação entre crescimento econômico e consumo de energia é amplamente conhecida. Dessa forma, muitos estudos buscam acompanhar a demanda de energia para adequar cenários e projeções futuras. O estudo elaborado pelo IEA contribui para esse entendimento e aponta interessantes reflexões.
O impacto das políticas públicas sobre a demanda de energia
Um aspecto interessante observado foi a correlação entre queda do consumo de energia e a política de lockdown adotada por diferentes países. Dependendo da duração e da restrição do lockdown, tem-se diferentes impactos sobre a demanda de energia. O estudo apontou que países que “lockdown completo” experimentaram declínio da demanda de energia da ordem de 25%.
Enquanto países que adotaram “lockdown parcial” reduziram em média 18%.
Perfis de queda diferentes por fonte de energia e geografia
A demanda de energia reduziu 3,8% no primeiro trimestre de 2020. Claramente, o principal impacto foi sentido no mês de março com as medidas restritivas em quase todos os continentes. Especificamente a demanda de carvão teve a maior queda de cerca de 8%, dado a crise na economia chinesa nesse período. A demanda de petróleo reduziu aproximadamente 5% devido as restrições de mobilidade e de vôos, que respondem por quase 60% da sua demanda. Por outro lado, o impacto sobre o gás natural foi moderado, com queda de 2%. Já as fontes renováveis foram as únicas que apresentaram crescimento no período, dada o aumento de capacidade instalada e a prioridade de despacho.
O cenário de guerra para o final de 2020
O cenário previsto para o final de 2020 é de 6% de contração na demanda de energia. Em suma, trata-se da maior queda percentual de consumo de energia em 70 anos e a maior queda em termos absolutos. O impacto da covid-19 sobre a demanda de energia em 2020 será 7x maior que a crise financeira de 2008.
De fato, todas as fontes energéticas serão afetadas. Primeiro, a demanda de petróleo reduzirá 9%, retornando aos níveis de consumo de 2012. Segundo, a demanda de carvão cairá em 8% e sua recuperação dependerá de como a China reagirá à crise. Terceiro, o consumo de gás natural deverá ter reduções ainda maiores, devido a queda de demanda de energia e da indústria. Finalmente, as fontes renováveis devem ser as únicas a crescer. Os baixos custos operacionais e a preferência no acesso aos sistemas de distribuição de energia elétrica são vantagens competitivas importantes.
O impacto ambiental positivo de alívio momentâneo
A estimativa para 2020 sobre a demanda global de eletricidade é de queda de 5%, com algumas regiões reduzindo até 10%. No entanto, as emissões de CO2 devem reduzir 8% até níveis de 10 anos atrás. A redução anual será uma das maiores já alcançadas. 6x maior que o recorde anterior de 0,4 Gt em 2009, causada pela crise financeira. No entanto, como nas crises anteriores, a recuperação econômica traz aumentos desproporcionais em emissões. A menos que a onda de investimentos para recuperação da economia se destine para obras de infraestrutura de energia limpa e resiliente.