Como o aumento da conta de luz em dezembro impacta a meta de inflação
Saiba como a antecipação do aumento das tarifas de energia elétrica nas contas de luz de dezembro impacta as metas de inflação, os bolsos dos mais pobres e as ações das empresas elétricas
A Agencia Nacional de Energia Elétrica, Aneel, retomou a política de bandeiras tarifárias por causa do baixo nível dos reservatórios hídricos e da retomada econômica após o pior momento da pandemia. A antecipação da bandeira vermelha patamar 2 nas contas de luz, leva a um aumento no custo de energia. E o impacto é sentido em todos os setores da economia, aumentando as despesas das empresas e apertando o orçamento das famílias.
Qual é o impacto da bandeira vermelha sobre a inflação?
A bandeira vermelha patamar 2 estabelece uma cobrança adicional de R$ 6,24 para cada 100kWh. Esse aumento das contas de luz no mês de dezembro terá um impacto de aumentar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, IPCA, de 0,45%. Calculam-se que o aumento nas contas de luz pode ficar entre 7,1% e 10,7% versus os custos sob a bandeira verde.
Dessa forma, a previsão do IPCA acumulado de 2020 sobe de 3,9% para 4,3%.
No entanto, a antecipação da cobrança defasada por conta da pandemia traz um efeito positivo de 0,3%. Dessa forma, a inflação no ano que vem, tem agora uma projeção reduzida de 3,8% para 3,5%. O impacto deflacionário da bandeira tarifária no próximo ano (espera-se bandeira amarela em dez/21) deve ser compensado por revisões altistas na expectativa de outros preços administrados.
A maior pressão inflacionária concentrada no curto prazo tende a gerar menor pressão para as decisões de políticas monetárias do Banco Central. A expectativa é, portanto, de arrefecimento dos choques inflacionários em 2020. Assim, o mercado espera a manutenção da taxa de juros, SELIC, baixa por um período prolongado, dado o nível elevado de ociosidade presente da economia e a “ancoragem” fiscal.
Vejamos as previsões de alguns grandes bancos para a inflação de 2020 e 2021:
- Itaú: 4,3% para 2020 e 3,1% para 2021
- Barclays: 4,2% para 2020 e 3,4% para 2021
- XP: 4,3% para 2020 e 3,5% para 2021
Qual é o impacto da bandeira vermelha no bolso dos mais pobres?
Além da bandeira vermelha patamar 2, poderemos ter aumentos adicionais nas revisões tarifárias anuais na energia elétrica. Energia elétrica pesa diretamente no bolso da população mais pobre. Além disso, a demanda por energia elétrica é inelástica, isto é, difícil de encontrar um substituto mais barato. Enquanto o IPCA aponta 3,9% de forma generalizada, a inflação dos mais pobres apontava 5,3% no IPEA e 5,8% no IPC-C1. Pior, a rodada de reajuste deve encarecer também os combustíveis, transportes e os planos de saúde, que pesam mais sobre a classe média.
A Petrobras já anunciou mais um reajuste de 5% do botijão de gás às distribuidoras, que já acumula aumento de 21,9% no ano. O argumento é que os preços devem acompanhar o aumento da cotação internacional do combustível, assim como, a variação do dólar.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar, ANS, determinou que os reajustes de planos de saúde adiados em 2020 sejam aplicados a partir de janeiro de 2021, de forma diluída, em 12 parcelas.
A partir de janeiro, esperam-se ainda os reajustes do transporte público e as correções anuais das contas de luz, que devem tornar a energia ainda mais cara, para além do acionamento da bandeira tarifária. A gasolina e o diesel também devem subir no próximo ano.
A bondade de hoje pode ser a maldade de amanhã. O governo decidiu atrasar os ajustes de preços controlados, tais como: energia elétrica, água e esgoto para proteger a renda das famílias durante o período crítico da pandemia. No entanto, chega uma hora que é preciso reajustar esses preços e talvez até ter compensações ao alívio gerado em 2020.
Qual é o impacto sobre as ações das empresas elétricas?
Vale destacar que um dos fatores motivadores da decisão da Aneel é o crescimento da demanda de energia elétrica. Espera-se um aumento de 4% em dezembro e consequentemente, uma potencial queda de 15% nos reservatórios na região Sudeste.
Além disso, o fenômeno natural La Ninã, já confirmado esse ano, costuma produzir tempos mais secos na região sul da América Latina. Dessa forma, a expectativa do período de chuvas concentradas entre janeiro e março, apresenta grande incerteza. Os índices de pluviosidade durante o verão estará no radar de todos nos próximos meses.
Claramente observaremos perdedores e ganhadores. Empresas de energia com forte presença na geração de energia hidrelétrica como AES Tietê, CESP e ENGIE podem ser pressionadas como um potencial risco hidrológico para a geração hidrelétrica com deficit de 30%. Por outro lado, as empresas que já tenham provisionado recursos para a geração térmica mais cara terá sua compensação com aumento de tarifas em 2021.