Revolta da Vacina: a história da rebelião e sua conexão com os dias atuais

No início do século, uma revolta contra a vacinação da varíola levou o Rio de Janeiro ao caos e quase acabou em golpe de Estado. Conheça a história de uma das maiores rebeliões populares da história do país e entenda sua ligação com o presente.

A Revolta da Vacina foi uma rebelião popular que aconteceu em novembro 1904. A população do Rio de Janeiro, que na época era a capital do país, revoltou-se contra a vacina anti-varíola. Porém, a história é mais complicada do que parece.

Na verdade, a cidade passava por um momento difícil de sua história. O seu crescimento rápido havia deixado as ruas imundas e a população doente. Enquanto isso, as iniciativas do governo eram mais autoritárias do que educativas.

Dessa forma, o movimento tem muito a ver com o complexo contexto social da época. Conheça a história por trás da Revolta da Vacina e entenda como ela se relaciona com os movimentos atuais.

 

Qual foi a causa da Revolta da Vacina?

 

Como já foi mencionado, a Revolta da Vacina está profundamente ligada a diversos acontecimentos da época. Assim, para entendermos esse movimento, precisamos saber o que se passava naquele momento.

 

A situação do Rio de Janeiro

 

No início do século XX, o Rio de Janeiro enfrentava graves problemas. Acontece que a cidade surgiu e cresceu durante a Colônia e o Império. Dessa forma, aqueles que desenharam suas ruas e construções pensavam em uma população reduzida.

Porém, em 1904, era lá a capital do Brasil e o centro econômico do país. Assim, a população cresceu e circulação de viajantes e produtos era alta. Logo, a cidade acumulava toneladas de lixo pelas ruas. Evidentemente, esse era um ambiente perfeito para o surgimento de doenças. De fato, ratos e mosquitos prosperavam, transmitindo peste, febre amarela e afins.

Sendo assim, o presidente Rodrigues Alves decide que é chegada a hora de reconstruir o Rio de Janeiro. A ideia era adaptar a cidade às necessidades de uma grande capital. Para isso, o presidente chama o engenheiro Pereira Passos para ser prefeito.

 

As reformas que antecederam a Revolta da Vacina

 

Pereira Passos desenha um Rio de Janeiro de ruas e avenidas largas e construções robustas. Para isso, é necessário demolir a cidade que então existia. Assim, boa parte da população sofre com remoções.

Logo, a cidade se moderniza e melhora, mas sem a aprovação de boa parte dos cidadãos. Alguns historiadores acreditam que esse foi um fator decisivo para que a Revolta da Vacina acontecesse.

Após isso, entra em cena o famoso doutor Oswaldo Cruz. O médico assume a Diretoria Geral de Saúde Pública em 1903. Sua missão é desafiadora: acabar com a peste, a febre amarela e a varíola.

Assim, Oswaldo Cruz começa uma série de campanhas de saneamento e vacinação. Infelizmente, o autoritarismo marca essa iniciativas. Por exemplo, ao invés de ensinar a importância da higiene, os oficiais do governo invadiam e vasculhavam casas.

Dessa forma, tanto a reforma física da cidade quanto as campanhas de Oswaldo Cruz deixam a população descontente e indignada. Assim, quando a vacina se torna obrigatória, tudo acontece muito rápido.

 

Revolta da vacina 2
Imagem: reprodução / pinterest

 

Os acontecimentos de novembro de 1904

 

Em 1904, chegava a 1.800 o número de internações por varíola. Apesar da vacina já estar pronta, a população não confiava nela. Afinal, muitas lendas urbanas haviam se criado em volta da injeção. Por exemplo, dizia-se que quem a tomava ficava com o rosto parecido com o de uma vaca.

Assim, Oswaldo Cruz pressiona o governo a tornar a vacinação obrigatória. Após muita oposição, o Congresso aprovou o projeto de lei em 31 de outubro de 1904. Nele, determina-se que o comprovante de vacinação é necessário para uma infinidade de coisas. Por exemplo, matrículas nas escolas, empregos, viagens e casamentos. Além disso, quem resistisse à vacinação teria de pagar uma multa.

Em 9 de novembro de 1904, o jornal A Notícia divulga a lei para a população. O povo, que já estava bastante desconte, decide ir às ruas. No entanto, rapidamente a Revolta da Vacina se transforma em algo muito maior.

 

A tentativa de golpe

 

Nesse momento, grupos de oposição ao presidente Rodrigues Alves enxergaram uma oportunidade. Assim, monarquistas e militares tentam utilizar a Revolta da Vacina para realizar um golpe de Estado.

Dessa forma, a rebelião que começa no dia 10 de novembro com o povo indo às ruas cresce rapidamente. Ao se juntarem à população, militares levam seus soldados para enfrentarem a Polícia Federal. Assim, no dia 11 começam as trocas de tiros e no dia 13 o caos está instalado.

Por fim, na madrugada de 14 para 15 de novembro, as forças do governo derrotam a tentativa de golpe. No dia seguinte, 16 de novembro, cai a obrigatoriedade da vacina. No dia 18 de novembro de 1904, termina “a mais terrível das revoltas populares da República”.

A cidade se encontrava destruída. Uma massa de 3.000 pessoas derrubou bondes, arrancou trilhos e calçamentos e destruiu prédios. Ao todo, foram 945 presos, 30 mortos, 110 feridos e 461 deportados para o Acre.

 

O Movimento Anti-Vacina dos dias atuais

 

Atualmente, a luta contra as injeções ainda não acabou. Porém, suas motivações são bastante diferentes do que as que originaram a Revolta a Vacina. Atualmente, existem alguns grupos que fazem parte do movimento anti-vacina, também conhecidos como antivaxx,

Esses são grupos de pessoas que não acreditam no efeito das vacinas. Por vezes, acreditam que seu uso possa apresentar riscos. Geralmente, esses grupos associam as vacinas a algum tipo de doença que ela desenvolveria. Alguns deles lutam contra a obrigatoriedade das vacinas e outros contra a sua produção.

No Brasil, o movimento está bastante associado a grupos religiosos, especialmente evangélicos. Para eles, a vacina seria uma forma de interferir com a vontade divina. No entanto, nem todos os grupos que se colocam contra a vacinação são religiosos.

Isso é preocupante para todos por diminuir a quantidade  de crianças que participam das campanhas de vacinação. Quando menos pessoas se vacinam em um local, maior é o risco de doenças que já foram controladas voltarem a surgir com força. Dessa forma, podemos dizer que os grupos anti-vacina são um problema de saúde pública.

O movimento ganhou muita força após a publicação de um artigo falso. Nele, um médico associava a vacina do sarampo ao autismo. Pouco depois, prova-se a falsidade do texto. Além disso, descobriu-se a ligação do médico com advogados que pretendiam processar a fabricante da injeção. Porém, o estrago já estava feito e o movimento ganhou força a partir daí.

Obviamente, esses grupos têm questionado as vacinas para o coronavírus. Apesar de algumas polêmicas no meio científico, lembramos que as vacinas devem obedecer protocolos de segurança. Sendo assim, não há qualquer motivo para duvidar de sua eficácia.

 

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