PANC: Especialistas explicam Plantas Alimentícias Não Convencionais
As Plantas Alimentícias Não Convencionais são opções nutritivas e diversas para nossa dieta que podem revolucionar a forma como nos alimentamos. Veja o que especialistas têm a dizer.
As Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) estão por todas as partes e cada vez mais no centro do debate sobre sustentabilidade, ecologia e segurança alimentar.
De cardápios de restaurantes a cartilhas governamentais, elas são cada vez mais citadas e fazem muitas pessoas questionarem seus hábitos alimentares.
Mas que plantas são essas e que possibilidades elas apresentam para nossa alimentação? Para entender melhor, o DCI conversou com Daniel Alan Costa, professor de fitoterapia da USP, naturopata e especialista em Bases de Medicina Integrativa do Albert Einstein.
O que são as PANC – Plantas Alimentícias Não Convencionais?
As Plantas Alimentícias Não Convencionais são todas as plantas que podem ser ingeridas, mas que não são entendidas como alimento por uma cultura ou região. O termo foi cunhado pelo professor Valdely Kinupp em 2007, na tese de doutorado “Plantas Alimentícias Não Convencionais da Região de Porto Alegre”.
Em sua tese, o professor Valdely afirma: “Muitas espécies de plantas espontâneas ou silvestres são chamadas de “daninhas”, “inços”, “matos” e outras denominações reducionistas ou pejorativas, pois suas utilidades e potencialidades econômicas são desconhecidas”.
Ou seja, o que torna uma planta parte do grupo das PANC são aspectos culturais, não biológicos. O professor Daniel Alan Costa nos traz o exemplo da ora-pro-nobis: “É considerada uma PANC para muitas regiões brasileiras, mas para os mineiros é um alimento convencional, ou seja, já é enraizado o seu uso naquela cultura.”
Assim, uma planta pode ser considerada PANC em uma região e em outra não. Qualquer planta é uma PANC se ela pode ser ingerida e não é reconhecida como alimento em uma região onde cresce.
Qual a importância das PANC?
As Plantas Alimentícias Não Convencionais têm o potencial de revolucionar a nossa alimentação e a maneira como nos relacionamos com o meio ambiente.
Segundo Daniel Alan Costa, as PANC podem beneficiar nossa saúde através de sua diversidade de nutrientes. “Quando saímos dos alimentos que estamos acostumados, acabamos encontrando uma diversidade de compostos que a priori não teríamos com os alimentos convencionais.”
Em artigo em seu site pessoal, a nutricionista Bruna de Oliveira conta que muitas dessas plantas apresentam teores de nutrientes superiores aos das plantas disponíveis nos mercados.
Daniel Alan Costa também enfatiza a forma que consumir PANC valoriza a biodiversidade e o trabalho dos pequenos produtores. Da mesma forma, Bruna de Oliveira aponta que as PANC nos mostram que não estamos consumindo toda a biodiversidade que nosso país contém.
A nutricionista destaca que muitas dessas plantas são de reprodução espontânea e de grande adaptabilidade. “Por essa capacidade que possuem de crescer em condições adversas, são consideradas pelos agricultores como tolerantes a estresses e mais resistentes à seca e solos pobres.”
Assim, as PANC trazem benefícios para a nossa saúde, com maior variedade de nutrientes em nosso prato, e para o meio ambiente, aumentando a biodiversidade e reduzindo os riscos à produtividade.
Onde podemos encontrar as Plantas Alimentícias Não-Convencionais?
Existem três formas de se obter uma PANC: comprando, plantando ou coletando. Bruna de Oliveira nos lembra que elas são não-convencionais por não serem produzidas para comercialização em grande escala.
Logo, nem sempre elas estarão à venda nos mercados e feiras, mas é muito comum encontrá-las crescendo livremente em locais públicos onde podem ser coletadas. Porém, é necessário cuidado.
Na cartilha do Instituto Kairós, o gestor ambiental Guilherme Reis Ranieri nos lembra que calçadas e ruas são ambientes poluídos e contaminados. “A recomendação é adquirir as verduras em hortas urbanas ou em feiras orgânicas. A colheita feita na rua deve refletir um consumo esporádico e exige boa higienização.”
No entanto, o especialista dá uma excelente dica de como aproveitar as coletas urbanas de forma mais segura: “Você pode pegar mudas e sementes das ruas e cultivar na sua casa, sem problema algum.”
Comprando
Dificilmente você encontrará uma PANC nas grandes redes de supermercados que trabalham com alimentos produzidos em larga escala. Porém, você encontrará algumas espécies nas feiras de produtores que acontecem nas ruas.
Para Daniel Alan Costa, a probabilidade maior de as encontrarmos é em feiras de orgânicos ou com pequenos produtores que são especialistas nestes alimentos. E, como as PANC estão sujeitas à contaminação ambiental, o especialista recomenda sempre atenção à sua procedência.
Coletando
Como ensina Bruna de Oliveira: “Elas podem estar em qualquer lugar: calçadas de ruas, pelas praças, ruelas, rachas de muros, canteiros de estacionamento ou terrenos baldios.”
Para aprender a reconhecer as PANC, você pode utilizar a cartilha do Instituto Kairós, organizada por Guilherme Reis Ranieri. Nela, encontramos um longo e detalhado catálogo de Plantas Alimentícias Não Convencionais, com fotos para facilitar a identificação.
Plantando
Uma forma extremamente segura e barata de consumir as Plantas Alimentícias Não Convencionais é abrir um espaço para elas na sua horta.
No intuito de promover o seu plantio e consumo, a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) publicou em seu site a coleção de cartilhas “PANC – Hortaliças Não Convencionais”.
Cada uma das cartilhas foca em uma PANC, explicando detalhadamente como plantar e cultivar a planta. Além disso, no final de cada cartilha você encontra uma receita simples para começar a se aventurar com esses novos sabores.
Como incluir as PANC na nossa alimentação?
Hoje em dia, existem muitas receitas com PANC na internet, mas não é necessário inventar a roda aqui. A maneira mais fácil de inserirmos as Plantas Alimentícias Não Convencionais na nossa alimentação é substituindo alimentos convencionais por elas.
Assim, você pode utilizar uma receita que já conhece e gosta, trocando um dos ingredientes centrais por uma das PANC. Em resumo, nas palavras de Daniel Alan Costa: “O segredo é mesmo a experimentação.”
Fontes: Daniel Alan Costa é especialista em Bases de Medicina Integrativa pelo Albert Einstein, professor de fitoterapia na Escola de Educação Permanente do Hospital das Clínicas/Faculdade de Medicina da USP. Naturopata. Acupunturista membro da WFCMS (World Federation Chinese Medicine Societies). Também é coordenador do curso de pós-graduação em Naturopatia da UNIP e diretor da EBRAN – Escola Brasileira de Naturopatia.
Bruna de Oliveira. Nutricionista formada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos. Especialista em Plantas Alimentícias Não Convencionais – PANC. Atuou como pesquisadora assistente no Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura – Palin na Gerência Regional da Fiocruz – Fiocruz Brasília. Ativista e pesquisadora alimentar, também é coletora urbana e sócia fundadora na Crioula | Curadoria Alimentar.