Ministério da Saúde pressiona Manaus a usar cloroquina contra Covid-19

A pasta enviou um documento à prefeitura da cidade em que é dito que é inadmissível não usar cloroquina — remédio sem comprovação científica contra a covid-19 — para tratar doença

A Prefeitura de Manaus, capital do Amazonas, recebeu uma “indicação” do Ministério da Saúde para utilizar medicamentos sem comprovação científica, como ivermectina e cloroquina, para o chamado “tratamento precoce” contra a Covid-19. A informação é da Folha de São Paulo. Segundo a publicação, a pasta ainda pediu autorização para fiscalizar as Unidades Básicas de Saúde como forma de “encorajar” esse tipo de tratamento. Vale lembrar que o Brasil possui 484 mil comprimidos de cloroquina estocados. 

A ideia da fiscalização, que seria iniciada nesta segunda-feira (12/01), é de “que seja difundido e adotado o tratamento precoce como forma de diminuir o número de internamentos e óbitos decorrentes da doença”.

 

O documento enviado à prefeitura de Manaus pelo Ministério da Saúde inclui o seguinte trecho: “aproveitamos a oportunidade para ressaltar a comprovação científica sobre o papel das medicações antivirais orientadas pelo Ministério da Saúde, tornando, dessa forma, inadmissível, diante da gravidade da situação de saúde em Manaus a não adoção da referida orientação”. O governo federal sugere um combinado de cloroquina ou hidroxicloroquina com azitromicina para pacientes com sintomas leves, moderados e graves.

 

Por que a ciência não recomenda o uso de cloroquina para tratar Covid-19

Os remédios defendidos pelo governo federal, como cloroquina e ivermectina, não têm eficácia comprovada no tratamento do novo coronavírus. A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) contesta esse tipo de “tratamento precoce” incentivado pelo Ministério da Saúde. O FDA, a agência americana para medicamentos, também publicou documentos onde ressalta que não há provas de que a hidroxicloroquina seja “segura ou eficaz para o tratamento e a prevenção da covid-19”.

 

Os efeitos colaterais da hidroxicloroquina ou da cloroquina são consideráveis. Os mais graves são possíveis reações cardiovasculares, como arritmias e paradas cardíacas, além de alterações do sistema nervoso central Estes podem resultar em sensação de confusão, convulsões e até coma. Há também pacientes que utilizaram o medicamento e relatam cefaleia (dor de cabeça), irritações gastrointestinais, distúrbios visuais e urticárias. 

 

Shadia Fraxe, secretária de Saúde de Manaus, diz ainda não ter lido o documento enviado pelo Ministério da Saúde, mas que somente distribuirá medicamentos cuja eficácia tenha sido comprovada por estudos científicos e que tenham passado por aprovação dos conselhos regional e federal de medicina.

 

Estoque de cloroquina no Brasil

O Ministério da Defesa tinha, em agosto de 2020, 4 milhões de comprimidos de cloroquina e hidroxicloroquina estocados, sendo que havia distribuido outros 5 milhões para todo o país. O Ministério informou que a produção dos 3 milhões de comprimidos de cloroquina custou 1,1 milhão de reais desde o início da pandemia até o momento.

Hoje, existem 484 mil comprimidos de cloroquina estocados no Laboratório Químico Farmacêutico do Exército (LQFEx). No entanto, o governo federal já está preparando uma nova compra do medicamento para este ano.

 

Dados da Covid-19 no Brasil

A capital do Amazonas e o estado têm batido recordes de internações e mortes e têm sofrido com a falta de leitos e de equipamentos. Ontem (11), 1.391 pessoas encontram-se internadas com a doença no Amazonas, com 250 novas internações por Covid-19. “A vacinação em massa é a nossa grande saída. Preciso receber essa vacina. Foi o que mais eu pedi”, alegou Shadia Fraxe, sobre conversa com Eduardo Pazuello nesta segunda (11).

 

O Brasil registrou 477 mortes pela Covid-19 nas últimas 24 horas, chegando ao total de 203.617 óbitos desde o começo da pandemia. Com o número, a média móvel de mortes no Brasil nos últimos 7 dias foi de 1.004. A variação foi de +59% em comparação à média de 14 dias atrás, indicando tendência de crescimento nos óbitos pela doença.

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