Boligarcas: Descubra quem são os acusados de desvio de dinheiro público na Venezuela
Governo venezuelano e empresários nacionais extraíram bilhões de dólares da Venezuela com ajuda de bancos internacionais
Nesta segunda-feira, 21, o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) revelou uma série de relatórios que mostram translações entre boligarcas e o governo venezuelano. Os documentos sinalizam para o desvio de dinheiro público ao exterior, incluindo recursos que deveriam ser destinados a serviços básicos.
O que são os Boligarcas?
Em suma, os boligarcas são magnatas que aumentaram suas fortunas com desvio de dinheiro público oriundos de contratos com o governo venezuelano de Hugo Chávez e Nicolas Maduro.
Assim, os boligarcas são uma referência irônica a Simon Bolívar, herói da independência sul-americana, que serviu de inspiração para Chávez em seu movimento político.
Desse modo, a palavra “boligarcas” é a junção das palavras bolivarinos e oligarcas. Todavia, a população venezuelana se refere a eles, de forma depreciativa, como os “conectados” ou os “logados”.
A Crise na Venezuela: os Boligarcas e o Desvio de Dinheiro
Atualmente, a Venezuela passa por uma das maiores crises humanitárias do mundo. No país latino-americano, a inflação não para de subir. Com isso, a população vive em condições insalubres. Um a cada 3 venezuelanos não tem comida suficiente para sobreviver.
Para piorar, a indústria petrolífera, antes carro-forte da economia do país, está em colapso. Desse modo, cerca de 5 milhões de venezuelanos já fugiram do país em busca de melhores condições de vida. Mas como um país chegou a essa situação?
De acordo com os arquivos obtidos pelo BuzzFeed News e analisados pela ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), boligarcas que mantinham laços e contratos firmes com o ex-presidente, Hugo Chávez e o atual presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, contribuíram para a crise.
Segundo os relatórios, existem mais de 3 trilhões de dólares em operações suspeitas envolvendo magnatas vinculados aos líderes estatais. Além disso, os documentos apontam para diversos bancos acobertavam o desvio de dinheiro público.
A investigação sobre o desvio de dinheiro público da Venezuela
Para chegar a esses dados, a mega investigação jornalística teve como base os arquivos da FinCen (Financial Crimes Enforcement Network), organização americana que investiga crimes financeiros. Através dos relatórios da FinCen, é possível descobrir esquemas de lavagem de dinheiro sobre grandes fortunas de um lugar para o outro.
Desse modo, o BuzzFeed obteve os relatórios da FinCen com movimentações suspeitas entre membros do governo venezuelano e boligarcas. Assim, o jornal compartilhou os arquivos com mais de 400 jornalistas investigativos de 88 países para analisarem os dados.
Como resultado da investigação, jornalistas descobriram um esquema de corrupção na Venezuela que já durava anos. Segundo os documentos, os boligarcas conquistaram suas riquezas através de contratos com o governo venezuelano.
Assim, eram feitas operações de desvio de dinheiro público, verba originalmente destinada a projetos e serviços sociais, para contas no exterior.
Os empresários envolvidos no esquema
Ao todo, foram 7 boligargas que tiveram seus esquemas financeiros revelados na investigação, entre eles o magnata da construção civil no país, Alejandro Ceballos Jiménez.
Conforme os documentos da FinCen, Alejandro Ceballos teria enviado para contas internacionais cerca de 116 milhões obtidos com contratos do governo.
Assim, boa parte desse dinheiro é originário da petroleira estatal PDVSA e de programas governamentais como o “Misión Che Guevara”.
Os contratos, por sua vez, previam a construção do um complexo habitacional “Great Housing Mission Housingque” que iria gerar milhões de moradias populares para os venezuelanos. Todavia, o recurso foi desviado para contas de familiares de Ceballos e empresas offshore.
Com isso, os documentos alertam para o papel dos bancos europeus e estadunidenses na facilitação do desvio de dinheiro. O Banco Espírito Santo, por exemplo, fechado desde 2014 após intervenção do governo português, transferiu mais de 100 milhões de dólares da Venezuela para as contas de parentes de Ceballos.
Bancos ajudaram os boligarcas com o desvio de dinheiro
De acordo com a análise do ICIJ, os bancos registraram a movimentação de mais de US$ 4,8 milhões entre os anos de 2009 e 2017 em transações suspeitas com o governo da Venezuela.
Além disso, os relatórios reportam que mais de 70% dos valores envolvem dinheiro público pago. Desse modo, as principais agentes governamentais envolvidas eram o Mistério da Economia e a companhia petrolífera nacional, PDVSA.
Assim, entre os bancos que constam nos arquivos da FinCen, cujos quais ajudaram os boligarcas com o desvio de dinheiro estão o banco suiço CBH Compagnie Bancaire Helvétique e o Julius Baer Group, Banco Espírito Santo de Portugal, o JPMorgan Chase, com sede em Nova York, e o Standard Chartered, com sede em Londres.
Com o esquema sob investigação, a ICIJ afirma que os boligarcas já encontraram novos destinos para efetivarem suas translações e lavagem de dinheiro. Agora o foco é investigar movimentações entre a Venezuela e bancos localizados em Hong Kong, Chipre e Turquia.