Varejo: com maior valor agregado, margem de lucro está pressionada

Diante do quadro econômico, a estratégia das fabricantes de alimentos é oferecer produtos com maior apelo saudável e mais praticidade para convencer consumidor a pagar mais no varejo

São Paulo – A oferta de produtos com maior valor agregado não tem evitado que as fabricantes de alimentos trabalhem com margens mais pressionadas este ano. Com a desaceleração do consumo, as indústrias do varejo não querem perder vendas, elevando os preços dos produtos.O diretor comercial da Alimentos Zaeli, Aleksandro Siqueira, prevê uma margem de lucro mais apertada em 2015, mesmo com um portfólio de maior valor agregado. A fabricante não tem repassado a alta nos custos de produção, segundo o executivo. “Apertamos a margem e buscamos alianças com clientes [varejo] como alternativa ao cenário desfavorável”. Ele conta que, mesmo com o mercado retraído, a empresa está de olho no movimento de valorização dos alimentos considerados saudáveis. “Nossa aposta para 2015 são os produtos saudáveis e de consumo diário, para agregar valor à marca”, conta. A empresa de varejo espera encerrar o ano com avanço de 20% no faturamento e alta de até 14% no volume produzido. A executiva de marketing da Biscoitos Bela Vista, Mariana Maraia, também conta que o desafio da empresa neste ano é aplicar um aumento de preços. “Estamos batalhando para reajustar um pouco o preço e lançar produtos que o varejo realmente quer”. Segundo ela, no ano passado, a empresa começou a reformular sua linha de produtos para atender as novas exigências do mercado. “Além dos produtos saudáveis, outra tendência é a embalagem menor, para consumo único”, explica. De acordo com a executiva, produtos em embalagem menor têm preços mais atrativos. A Bela Vista prevê alta de pelo menos 12% no faturamento este ano e tem como meta produzir 30 mil toneladas de produto. Em 2014, a produção somou a 27 mil toneladas.Público específicoJá a paulista Superbom optou por manter o portfólio com foco em produtos para o público vegetariano e vegano – que não consome carne e produtos de origem animal, respectivamente. “Nossos produtos já são uma referência de opção saudável e não ficam restritos só a um público”, garante o gerente de marketing da Superbom, David Oliveira. Na avaliação dele, embora a empresa não fique restrita, tem se beneficiado da atuação em um nicho específico, já que a concorrência é menor. “Em tempos de crise, todo mundo perde algum espaço, mas nós temos produtos com baixa concorrência ou exclusivos, o que nos dá vantagem”, afirma.Oliveira afirma que as vendas de produtos exclusivos da fabricante são as que mais crescem e, este ano, o lançamento dos novos produtos deve alavancar as vendas. Em 2014, a receita líquida da Superbom cresceu 6% e o volume avançou cerca de 10,5%. Nesse ano, a expectativa é crescer 16% em receita líquida e 20% em volume. “Vamos crescer, mas com um ano ruim em relação à margem, porque o varejo não aceita bem repasses acima da inflação”, revela ele.PreçoDe olho na concorrência, a Camil trabalha em diferentes frentes. “Eu tenho marcas de combate, com produtos de menor valor, para mostrar para o cliente [varejo] que comigo ele consegue ter os dois tipos de produto, com menor e maior valor agregado”, afirma a diretora de marketing da Camil, Andrea Martins.Na Bunge, dona das marcas Delícia, Soya e Salsaretti, a estratégia adotada é concentrar o reajuste em uma única etapa. Segundo o diretor comercial e de consumo da área de alimentos e ingredientes da companhia, Gerson Francisco, em 2014 a Bunge aplicou apenas um reajuste no ano e, como o repasse foi bem aceito, deve repetir a estratégia em 2015.”Sabemos que o consumidor está mais sensível ao aumento de preços esse ano, então além de concentrar o reajuste, absorvemos parte dessa alta”, relata Francisco.A BRF, por sua vez, tem investido em comidas prontas, cujos preços tendem a flutuar menos do que os cortes in natura. “Fizemos uma correta reprecificação”, avaliou o diretor financeiro da BRF, Augusto Ribeiro Jr, em teleconferência com analistas, na semana passada. Ele garante que a empresa ainda deve repassar custos.

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