Mercado financeiro passou à margem da crise política
Dólar recuou e bolsa emplacou, na terça-feira, a quarta valorização seguida e tendência é de que se mantenha firme na semana
O mercado financeiro tem tocado os negócios à margem das turbulências provocadas pela troca de cadeiras no alto escalão do poder. A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, emplacou nesta terça-feira, dia 30, a quarta valorização seguida e pode continuar firme nesses próximos dias. O dólar recuou, ainda que discretamente.
Nessa toada, com o interesse focado em outras questões, mais ligadas à economia, não será surpreendente, para especialistas, se o mercado financeiro mantiver uma trajetória positiva nestes dois próximos dias de uma semana mais curta. Além de mais curta, em clima de semiferiado, ou recesso sanitário, pela antecipação dos feriados que viriam mais à frente. Uma medida para conter o avanço do coronavírus.
Algumas notícias alentadoras, em meio à tensão política em Brasília, animaram o mercado financeiro,ontem. Como a criação de empregos acima das expectativas, estampada nos números do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), e déficit nas contas do governo abaixo das estimativas do mercado. O Caged apontou um saldo positivo de 401.639 novos empregos criados em fevereiro, bastante acima das cerca de 250 mil previstas.
O desempenho da bolsa de valores não tem surpreendido alguns analistas. Como João Vitor Freitas, da Toro Investimentos. “Hoje (ontem) o mercado financeiro está às voltas com o progresso, mesmo que lento, da vacinação, dos resultados do IGP-M abaixo do esperado, e do Caged, que trouxe boas notícias para a economia.”
O dólar andou na contramão da bolsa de valores. As mudanças parecem indicar uma redução de risco, consequência das movimentações políticas. A leitura do mercado foi a de que haverá agora uma aproximação do Executivo e Congresso, com aumento de possibilidades na solução de problemas fiscais e melhor governabilidade do País
A dança das cadeiras nos ministérios e na cúpula do governo Bolsonaro gera preocupação, mas aparentemente marginal, no momento. “Os mercados têm se comportado com uma visão pouco mais pragmática”, avalia Romero Oliveira, head de Renda Variável da Valor Investimentos.
Por visão pragmática entende-se que o foco de investidores está dirigido aos resultados que poderiam ser colhidos na esteira desses movimentos em Brasília. “A ideia é que, com as trocas, o governo busca entendimento mais afinado com o Centrão. Um alinhamento que poderia abrir caminho para a aprovação das reformas econômicas no Congresso.
Uma estratégia em que estaria acoplada ainda, também com vistas ao destravamento das reformas, uma aproximação entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira.
A principal preocupação de curto prazo de analistas e profissionais de mercado, comenta Oliveira, é com o delicado quadro fiscal do País. Uma preocupação que explicaria o interesse pelo avanço das reformas. Uma das variáveis da equação em busca de controle do déficit das contas públicas é a retomada da atividade econômica.
Causa mal-estar, na questão fiscal, a perspectiva de uma retomada mais devagar da atividade, analisa Oliveira. Agrava o sentimento de incerteza a falta de previsibilidade de recuperação da economia, em cenário de descontrole da pandemia e de ritmo vagaroso de vacinação.
A B3 fechou com valorização de 1,24%, em 116.849,67 pontos, e o dólar com alta residual de 0,08%, cotado por R$ 5,76.