Entenda por que projeções de inflação e PIB mexem com as aplicações
Estimativa de crescimento maior do PIB é indicação de bons resultados para empresas que tem ações em bolsa
Os dados sobre projeções de inflação e PIB para o ano, que o Banco Central divulga toda segunda-feira no boletim Focus com base em consultas feitas com economistas do mercado financeiro, poucas vezes chamaram tanto a atenção de investidores e especialistas como no período mais recente.
O motivo é que os dados de PIB e inflação estão diretamente relacionados a temas que influenciam decisões em segmentos de mercado, como a bolsa de valores e o dólar. O otimismo com a perspectiva de crescimento da economia, sinalizada pela alta de 1,2% do PIB no primeiro trimestre e reforçada pelas seguidas revisões para cima nas estimativas de PIB pelo Focus, está movimentando a bolsa de valores, a B3, que coleciona oito altas consecutivas. E recordes seguidos em número de pontos.
A estimativa para a expansão do PIB na edição do boletim desta segunda-feira subiu de 3,96% para 4,36%, influenciada pela expectativa de crescimento mais robusto da economia sugerida pelo PIB trimestral, divulgada pelo IBGE na semana anterior. Alguns analistas e economistas se antecipam ao Focus e já preveem alta até acima de 5% para o PIB de 2021.
A expectativa em torno de um ritmo de atividade econômica mais forte tem beneficiado ações de empresas de varejo ligadas ao consumo, um dos setores que têm dado tração à bolsa. Consumo em alta gera receitas às empresas, que lucram mais e veem suas ações se valorizarem no mercado.
Outro dado que tem atraído maior atenção do mercado financeiro é a inflação, que também tem passado por seguidas revisões para cima no relatório semanal Focus. Mas, em vez de causar desconforto, porque poderia vir a exigir ação mais firme do Banco Central na condução da política monetária e no manejo dos juros, tem sido visto como algo benigno, pelo menos momentâneo, pelo alívio na preocupação fiscal de curto prazo que o avanço inflacionário proporciona.
Projeções de inflação e PIB estão em alta
O economista-chefe da Integral Group, Daniel Miraglia, diz que, além das revisões para cima do PIB, o mercado tem recebido bem também as reestimativas de inflação para cima – no relatório Focus desta segunda, a inflação projetada para este ano subiu de 5,31% para 5,44%. “As contínuas revisões para cima do IPCA fazem a relação dívida/PIB ser menor que a projetada no início do ano, o que alivia a preocupação fiscal de curto prazo”, avalia Miraglia. O temor inicial era que a relação dívida/PIB chegasse a 100% no fim do ano, revista agora para algo em torno de 85%.
A redução da relação dívida pública/PIB, segundo o executivo, diminuiu, por exemplo, a pressão sobre o dólar, que vem de seguidas baixas. O temor de um descontrole das contas públicas, sinalizada pelo crescimento da relação dívida/PIB, vinha dando sustentação ao dólar, procurado em momento de incerteza econômica e política.
Especialistas atribuem ao alívio das preocupações com o risco de desarranjo fiscal, a partir da aprovação do Orçamento 2021, a diminuição da pressão sobre o dólar, mais comportado e inclinado à baixa, encostado na linha de R$ 5, depois de flertar algum tempo com R$ 6.