Crédito prejudica população de baixa renda endividada
Quase um terço da população de baixa renda está com mais da metade de seu orçamento comprometido em produtos financeiros.
SÃO PAULO – Segundo informações da Serasa Experian, cerca de 27% da população de baixa renda (que tem ganhos em até R$ 2 mil por mês) está com mais da metade de seu orçamento comprometido em produtos financeiros, dentre eles, principalmente o cartão de crédito. Os dados foram divulgados no evento Recover Money, que tratou sobre recuperação de crédito, realizado ontem, e levaram em conta também empréstimo pessoal, financiamento de automóvel, cheque especial, entre outros produtos.
Entre os brasileiros de alta renda (cujos ganhos superam R$ 10 mil), o número de pessoas que têm mais da metade do orçamento destinado a essas dívidas chega a 13%. A pesquisa considerou os aproximadamente cinco milhões clientes que aderiram ao cadastro positivo, serviço no qual o histórico de pagamentos e transações do consumidor fica inteiramente à disposição da instituição financeira. “O processo de inadimplência é razoavelmente crônico, porque o País tem uma cultura de endividamento em todas as instituições, e também em pessoa física. Com isso foi possível refletir sobre a melhor forma de conduzir a própria economia”, avaliou o especialista em consumo e diretor executivo de conhecimento do Grupo Padrão, Jacques Meir.
Baixa renda com acesso ao cartão de crédito
Aqueles cujas dívidas acumuladas com esses produtos financeiros estão abaixo de 50% do rendimento somam 29% entre a população de baixa renda e 48% dos que podem ser considerados de alta renda. Apesar de demonstrar a dificuldade de boa parte dos cidadãos de baixa renda em arcar com seus compromissos ao tomarem os mais variados tipos de empréstimo, o acesso a esse crédito nem sempre é tão dificultado. “Cerca de 40% dos brasileiros de baixa renda tem acesso ao cartão de crédito. Quando levamos em conta a alta renda, o percentual sobre para 51%”, revela Julio Guedes, diretor de Decision Analytics da Serasa Experian. No entanto, mesmo com índices de inadimplência se mostrando consideravelmente altos, a expectativa é que o endividamento diminua em longo prazo. “A inadimplência se encontra perto de um patamar de estabilização e tende a ser reduzida, porque há uma consciência de que tem que se reduzir o processo de endividamento, os riscos gerais. As empresas de maneira geral se conscientizaram. É preciso que o País tome a consciência de que é necessária poupar”, alerta Meir.
Entre os negativados, 39% possuem débito com o cartão de crédito. Acompanham as financeiras e leasing, com 13%, empresas de serviço, com 12%, varejo, com 9%, água, energia e gás, com 9% e outros tipos de serviços que somam 18% – dentre os brasileiros nas condições de negativados, 69% podem ser considerados entre os de renda baixa. Cadastro Positivo De acordo com os especialistas de bureaus de crédito, a implementação mais efetiva do cadastro positivo deve influenciar na qualidade do que é emprestado e na relação com os consumidores. “Nosso objetivo é que cresça no Brasil. Dará para separar perfis de clientes ‘muito bons’ e ‘ruins’, e não só controlar a inadimplência, como também desmistificá-la. A possibilidade de retomada de dinheiro é tão grande que até as taxas de juros podem cair muito”, explica o gestor de contas estratégicas do SPC, Roger Mendonça.
A possível queda de juros deve ser fundamental no ciclo de crédito e na retomada de confiança, tanto das empresas quanto dos próprios consumidores. “A queda de juros vai beneficiar tremendamente o mercado e vai ser expressiva futuramente. Há espaço para essa redução”, analisa Meir. No entanto, só a queda da taxa não será o fator que determinará uma retomada devida do crédito. “Não há uma disponibilidade de crédito assoberbada. O mercado está inseguro. A taxa de juros em queda só vai reter e reaquecer o mercado, mas não retomar o crédito”, opina Mendonça. Jacques Meir, do Grupo Padrão, responsável pelo evento Recover Money, ainda enaltece o ‘poder’ que a informação a respeito dos clientes pode influir na melhora do crédito cedido não só para o os bancos, como também para os consumidores. “É necessário disseminar uma cultura de responsabilidade na contratação dos empréstimos. Os agentes econômicos precisam informar mais, as empresas de crédito têm que informar melhor o que estão oferecendo para o cliente, e esse saber melhor o que estão tomando emprestado. E as pessoas vão começar a não se endividar com dívidas que não possam arcar”, finalizou.