Banco Neon chega para disputar mercado de instituições digitais

Banco Neon chega ao mercado como mais uma instituição financeira digital com a proposta de oferecer serviços sem burocracia.

SÃO PAULO – Lançado neste mês, o brasileiro Banco Neon chega ao mercado como mais uma instituição financeira totalmente digital. A proposta é fornecer por meio de um aplicativo no celular os serviços relacionados a uma conta bancária, desde a abertura até operações como saques e transferências, de modo mais fácil para o cliente do que nas instituições que têm redes de agências físicas. A ideia foi inspirada no conceito do banco digital americano Simple, conta o jovem de 24 anos Pedro Conrade, CEO do Banco Neon. “A proposta (do Simple) é um banco descomplicado e sem burocracia, simples desde o relacionamento até o serviço em si. Pensei que seria uma ideia fantástica no Brasil”, diz. Para criar uma conta, o usuário baixa o aplicativo do banco e cadastra o número do CPF e a foto do RG.

Para segurança das operações, o Neon utiliza recursos de biometria como impressão digital e reconhecimento facial, com aparelhos que dispõem dessas tecnologias. Assim que os dados do novo cliente são aprovados, o próprio aplicativo gera um boleto de R$ 100 para depósito na conta. A partir de então, o usuário tem acesso aos serviços e a um cartão de débito internacional com bandeira Visa, emitido no prazo de 10 dias úteis. O cliente do Banco Neon também recebe um cartão virtual com o qual pode fazer compras na internet. O objetivo é permitir compras em sites que só aceitam cartão de crédito. Embora opere como débito, o cartão é “lido” na função crédito. O valor da compra, porém, não pode ser parcelado, e é debitado integralmente da conta no momento em que a transação é finalizada. “Queremos que todos usem o cartão de todos os modos, mas não queremos que ninguém se endivide”, afirma Conrade.

Tarifas do banco

A proposta do Neon é oferecer taxas mais acessíveis que as cobradas por outras instituições e progressivamente ir reduzindo e até eliminando algumas, ainda que não sejá possível acabar com todas.  Por ser digital, a conta do Neon não está sujeita ao que estabelece o artigo  2º da Resolução 3.919 do Banco Central, que constitui uma cesta mínima de serviços e gratuidades mensais. Usuários do banco têm direito a um saque mensal gratuito nos postos da rede Banco24Horas. Os demais saem por R$ 6,90 cada um. Geração de boleto digital tem custo unitário de R$ 2,50. As taxas cobradas nas compras internacionais são de 4%, além do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

Transferências bancárias têm custo unitário de R$ 3,50, sendo que a primeira operação do mês é gratuita. As transferência entre contas Neon são isentas de taxa. “Alguns custos precisam ser repassados aos clientes. Todas as operações têm algum valor e ainda não conseguimos arcar com todas”, afirma o CEO da empresa, que diz ter como objetivo eliminar algumas taxas até 2017. A startup fatura justamente com a movimentação financeira de seus clientes, recebendo parte das tarifas de transferências e saques. Uma parte da taxa de câmbio em compras internacionais é outra fonte de renda.

De Controly para Neon

Banco digitalAntes de se tornar Banco Neon, a empresa atuava com o nome de Controly. Fundada em 2015, essa startup trabalhava fornecendo um cartão pré-pago. O usuário adicionava saldo ao cartão e podia utilizá-lo em compras, gerenciando os gastos por meio do aplicativo. “Foi um ótimo passo, mas a ideia sempre foi avançar e se tornar um banco, oferecendo o serviço completo”, diz Conrade. Desde o lançamento da ideia inicial, foram aplicadas três rodadas de investimentos, as duas primeiras vindas de investidores anjos e a mais recente do Banco Pottencial, instituição financeira mineira. Ao todo, foram investidos R$ 14 milhões, dinheiro aplicado nas atividades da Controly e na infraestrutura do banco digital que seria lançado.

O Banco Neon foi criado a partir de uma joint venture – termo econômico que designa a associação de empresas – entre a Controly e o Banco Pottencial. Como o Pottencial já era credenciado como instituição financeira junto ao Banco Central e ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC), a razão social e o nome fantasia do banco foram alterados para Banco Neon e Banco Neon S.A. Assim, Controly e Banco Pottencial vão interromper suas atividades e propor a migração de seus clientes para o Neon. Ao longo de quase um ano, a Controly chegou a ter 10 mil clientes e foi acelerada na Artemisia, onde recebeu mentoria e aconselhamento por um curto período. De acordo com Conrade, uma nova rodada de investimento deverá acontecer ainda neste ano.

Banco 100% digital

A proposta do Banco Neon é mudar o conceito de instituição financeira tradicional ao operar digitalmente e eliminar taxas. “Bancos fazem a mesma coisa há 50 anos, que é simplesmente vender pacotes. A única inovação foi os aplicativos e para fazer a mesma coisa”, diz o fundador. O economista Roberto Luis Troster, ex-economista chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), avalia que o Neon tem diferenciais, mas vê também desafios. “É necessário ver como a instituição irá controlar custos e ter um grande número de relacionamento bancários”, diz o especialista. “O Neon trabalha com o desapego ao que é comum, mas a mobilidade bancária no Brasil é bem baixa. A ideia pode ter funcionado nos Estados Unidos, mas é necessário ver a atual situação no Brasil”, afirma Troster, que crê que só o tempo mostrará resultados.

De forma semelhante ao Neon, outras instituições financeiras brasileiras já trabalham em ambiente virtual, como Banco Original, Banco Intermedium e Celcoin. Além disso, grandes bancos como Bradesco, Itaú e Banco do Brasil também oferecem contas digitais. Em torno de dois dias, diz Conrade, as 5 mil contas inaugurais do Neon foram preenchidas. Ainda é possível solicitar contas, que somente serão concedidas após aprovação das cadastradas anteriormente. “Soltaremos as (novas) contas em algumas semanas, pois visamos atender a todos adequadamente”, afirma.

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