Jogos Paralímpicos: conheça Fernando Rufino, o ‘Cowboy de Aço’ de MS
Paracanoísta conhecido por escapar da morte fará sua estreia nos Jogos Olímpicos depois de ficar fora da Rio-2016.
Participar dos Jogos Paralímpicos é o sonho de muitos atletas de alto rendimento. Mas entre os 260 desportistas brasileiros presentes em Tóquio-2020, há um que além de ser conhecido pelo esporte, tem a fama curiosa de conseguir escapar da morte. O paracanoísta Fernando Rufino, o “Cowboy de Aço”, irá representar o Brasil no principal everto esportivo do mundo e conversou com o DCI sobre sua expectativa e façanhas no mundo.
Imortal, atleta já superou 4 graves acidentes
Na Paracanoagem desde 2012, o “Cowboy de Aço” passou por certos perrengues nesta vida. O início de sua carreira dentro do caiaque começou após o sul-mato-grossense, natural de Itaquiraí, cair de um ônibus com a porta aberta. Ao escorregar, Rufino caiu para de baixo do veículo e foi atropelado, o que provocou uma lesão de medula e o deixou paraplégico.
No entanto, antes do trágico acidente que o deixou em uma cadeira de rodas para sempre, o Cowboy escapou da morte em outras ocasiões. Com o sonho de ser peão de rodeio, aos 21 anos caiu de um touro e teve a cabeça pisoteada pelo animal. Como consequência, teve o maxilar quebrado, mas aos poucos conseguiu se recuperar.
Anos depois, sofreu um acidente de moto e, por incrível que pareça, já foi atingido por um raio que caiu na casa de seus pais. Ele relata que este foi um dos ocorridos que sentiu mais medo e três dias depois ainda sentia o cheiro de pólvora. Em entrevista ao programa de rádio do Pânico, Fernando Rufino contou detalhes de sua vida imortal. Confira:
Início de Fernando Rufino no paradesporto
Envolvido com o esporte desde muito jovem quando tinha o sonho de ser peão de rodeio, após perder os movimentos das pernas, Fernando Rufino conheceu o paradesporto através do hospital SARAH, em Brasília, onde realizava tratamentos para sua reabilitação. Natural do Mato Grosso do Sul, resolveu conversar com um amigo para saber se na capital do Estado, Campo Grande, existiria um local que fornecesse o esporte adaptado.
Viajou então para a Cidade Morena em 2012 e lá tentou diversas modalidades: arremesso de peso, basquete em cadeira de rodas, lançamento de dardo e, por fim, paracanoagem. Ao treinar no novo esporte por três dias, decidiu que era aquilo que queria e viu que poderia se dar bem na modalidade por conta de seu vigor físico.
O ex-peão de rodeio precisou apenas de quatro meses para já começar a se destacar na modalidade. Logo em suas primeiras remadas, garantiu o vice-campeonato brasileiro. Hoje, coleciona diversos títulos em competições nacionais, além de medalhas nos Jogos Pan-Americanos, Campeonato Sul-americano e um ouro na Copa do Mundo de Paracanoagem, disputada em Szeged (Hungria), em 2021.
Rio-2016
Embora colecione diversas medalhas, Fernando Rufino carece de uma que para ele pode ter um valor mais que especial: a medalha olímpica. O sonho de conquistar a condecoração poderia ter vindo em 2016, no Rio de Janeiro, mas devido a uma hipertrofia no coração, o sul-mato-grossense precisou ficar de fora dos Jogos.
“Fiquei fora da Rio-2016 por conta de uma pressão alta que eu tive e a hipertrofia no coração. Hoje voltou ao normal, realizei os tratamentos, a Confederação Brasileira de Paracanoagem me deu apoio, o Comitê Paralímpico Brasileiro também, e fiz um acompanhamento com os melhores médicos de São Paulo. Agora não tenho mais a hipertrofia e estou apto aos treinamentos”, revelou o atleta paralímpico.
Mesmo decepcionado com a ausência nas Olimpíadas de 2016, Fernando Rufino tentou não se abater. Com muita fé e sempre bem humorado, o atleta colocou em sua cabeça que aquela poderia então não ser a hora certa. Mas agora, encara a oportunidade de Tóquio com muita gana nos olhos e o desejo de marcar seu nome na história do esporte.
Preparação de Fernando Rufino para Tóquio e Covid-19
Desde 2017, Fernando Rufino iniciou sua preparação para as Olimpíadas de 2020, que precisou se adiada em até um ano por conta da Covid-19, o que aumentou ainda mais sua ansiedade. Mesmo com as dificuldades em decorrência da pandemia, o atleta não deixou de treinar. Em sua casa passou a se reinventar para garantir que estaria apto para os Jogos.
“Ficamos afastados dos treinos quando a pandemia começou, então na medida do possível passei a fazer exercícios em casa até voltar ao Centro de Treinamento, mas a gente tinha que se reinventar e habituar a vida para não deixar parar”, conta o atleta.
O esporte mudou a vida de Fernando Rufino em diversos aspectos, mas ele nunca escondeu seu amor pelo campo. A rotina de treinos abre uma distância na vida do representante brasileiro nas Paralimpíadas de Tóquio, de sua vida sertaneja. Mas o sonho de continuar escrevendo seu nome na história, dá forças para que ele supere a saudade e foque nas conquistas.
“Muito treino, dedicação, é vestir a camisa mesmo, ser atleta não é fácil, é dedicar sua vida, ficar longe da família, amigos, é estar longe também da minha vida sertaneja, sou um cara muito country, do mato, mas quero escrever meu nome na história do esporte”.
Jogos Paralímpicos 2021
Estreante nos Jogos Paralímpicos, Fernando Rufino revela que mesmo após o evento esportivo, planeja seguir no esporte de alto rendimento. Seu próximo foco será Paris-2024, quando após competir, planeja então se aposentar da modalidade e passar a dividir seu conhecimento com os jovens.
“Eu não penso em se aposentar no momento, estou com a saúde boa, os exames em dia. Quero aproveitar mais um pouco essa oportunidade de estar viajando e representando o Brasil. Após os Jogos de Paris-2024, ai sim penso em me aposentar do esporte de alto rendimento, ficar apenas por lazer. Quero dividir com o pessoal mais novo o que aprendi, pois o esporte tem o poder maravilhoso de realizar sonhos e pode realizar os de muitos jovens”.
Fernando Rufino compete nos dias 2, 3 e 4 de setembro nos Jogos Paralímpicos de Tóquio. A modalidade estreante na Rio-2016 já têm uma medalha paralímpica, conquistada por Caio Ribeiro (prata). As provas ocorrem no Sea Forest Waterway, mesmo local onde aconteceram as disputas da Canoagem Velocidade do então Jogos Olímpicos.
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