O que fazem hoje as primeiras aceleradoras do Brasil?

Ao longo dos anos, as pioneiras Aceleradora e 21212 mudaram o modelo de negócios e focaram em desenvolver o portfólio.

As primeiras aceleradoras surgiram há mais de cinco anos em busca de empreendedores. Diferentemente das paulistas Startup Farm e Ace, a carioca 21212 e a mineira Aceleradora não fazem mais programas de aceleração. Elas mudaram a atuação e passaram a focar no portfólio das companhias investidas.

Incubação acelerada das aceleradoras

É senso comum entre os fundadores das primeiras aceleradoras que os empreendedores ainda precisavam de capacitação para conseguir os primeiros investimentos. Pensando nisso, o mineiro Yuri Gitahy fundou a Aceleradora. “Era uma incubação mais acelerada. Eu queria trabalhar aqueles empreendedores para investir depois” , diz. A primeira aparição da companhia foi na Campus Party, no longínquo ano de 2010. Com dez mentores no evento de tecnologia, a Aceleradora foi em busca de empreendedores. “A gente tinha que estimular o ecossistema” , explica Gitahy. A equipe passou em outros estados, como Paraná e Rio de Janeiro, fazendo essa busca. Nos primeiros dois anos não eram realizados investimentos. Apesar dos projetos que chegavam organicamente por meio do site da aceleradora, de acordo com Gitahy mais de mil por ano, a grande maioria desses empreendedores, assim como nas chamadas para aceleração, tinham ideias incipientes, muitas vezes sem ter um produto pronto. Nesse período mais de 200 startups receberam apoio da aceleradora, mas sem receber investimento por serem negócios ainda bastante iniciantes. Observando essa dificuldade, Gitahy optou por, a partir de 2013, selecionar algumas poucas startups – já num estágio mais desenvolvido – por conta própria e investir nelas. Dessa maneira ele não precisaria fazer uma coisa que critica em relação às aceleradoras, de um modo geral, que é forçar empresas de momentos diferentes a seguir um processo fixo . Saídas demoradas Para o fundador da Aceleradora, fazer uma aceleração tradicional é difícil porque a principal fonte de receita é com as saídas, ou seja, quando o investidor vende sua participação.

Por tradicional Gitahy se refere ao modelo de realizar chamadas para investir em dezenas de startups a cada semestre ou ano. Dessa maneira, a única forma de remuneração da aceleradora é ao vender sua participação na empresa nascente. No entanto, ele alerta que esse modelo dificilmente é rentável, já que as saídas demoram para acontecer. Ou seja, os fundadores das aceleradoras teriam de estar preparados financeiramente para não ter receita por alguns anos. Depois de investir em cerca de 20 companhias durante o período de aceleração, em 2013 a Aceleradora mudou de atuação e passou a selecionar startups por conta própria, sem buscar empreendedores por meio de inscrições. Atualmente o portfólio conta com sete companhias. A Sympla, plataforma de eventos, a Trackage, de monitoramento inteligente e a Crowndtest, que auxilia grandes empresas a testar projetos, são as três principais. Corporações Assim como a Startup Farm e a Ace cresceram por meio de acelerações corporativas, a Aceleradora também optou por esse caminho. De acordo com Gitahy, é um modelo interessante porque oferece uma nova fonte de renda para esse tipo de empresa. Além disso, as grandes corporações estão buscando cada vez mais esse tipo de serviço.

No caso da Aceleradora, foram oito projetos realizados desde 2015. O objetivo, além de auxiliar gerentes e diretores para entender como são as práticas de uma startup, também é impulsionar o intraempreendedorismo, ou seja, dentro da própria companhia. Segundo Gitahy, é possível realizar startups dentro de uma própria corporação. Quase dez anos depois de fundar a Aceleradora, o fundador ainda realiza investimentos pontuais. Além disso, Yuri aposta nas capacitações e acelerações corporativas.

  AceleradoraAceleradora internacional

No início de 2011 surgiu a carioca 21212. O nome se refere aos códigos de telefone do Rio de Janeiro (21) e de Nova Iorque (212), já que a aceleradora tinha investidores americanos. Na capital financeira dos Estados Unidos havia também um escritório para ajudar as startups na internacionalização. O objetivo dos seis fundadores era ousado: em poucos anos acelerar 50 a cada programa. Porém, assim como Yuri Gitahy, eles perceberam que o mercado brasileiro carecia de empresas novatas num estágio um pouco mais avançado e decidiram recuar. A equipe que começou com o projeto era composta desde empreendedores, como três fundadores da empresa de tecnologia Movile, até investidores americanos. Logo após a primeira turma de aceleração a equipe decidiu mudar a estratégia da 21212. A gente viu que os empreendedores brasileiros eram um pouco mais crus em termos de bagagem , diz Frederico Lacerda, um dos sócios. Segundo ele, muitas pessoas estavam se aventurando no empreendedorismo pela primeira vez e essa experiência que faltava era importante. Isso foi em 2011, quando a aceleradora passou a oferecer cursos para ensinar os empreendedores como é o funcionamento de uma startup e os tipos de problemas que enfrentariam. O objetivo era fomentar o ecossistema, ainda muito incipiente, sem praticamente nenhum investidor voltado a startups. Para ensinar as equipes aceleradas, a 21212 optou por ter uma equipe própria que auxiliava as startups. Eram mais dez pessoas, que ajudavam a desenvolver o produto, na parte financeira, jurídica, entre outras coisas , diz Lacerda. Para o também fundador da aceleradora, Rafael Duton, esse investimento era mais significativo do que os cerca de R$ 50 mil em dinheiro que as startups recebiam, em troca de uma participação entre 5% até 15%. A aceleração durava cerca de seis meses e era presencial, no Rio de Janeiro.

Dilemas da aceleradora

Com a retomada do mercado norte-americano pós-crise de 2008, os sócios brasileiros perceberam que a apetite dos investidores estrangeiros abaixou, já que consideravam o mercado brasileiro menos interessante. Além disso, a demora das saídas tornava mais difícil a manutenção do caixa durante esse período. Tanto Duton como Lacerda citaram que boas saídas, ou desinvestimentos, no País ocorrem geralmente depois de dez anos. Sem o capital estrangeiro, eles tiveram o dilema de manter apenas com a atuação tradicional ou se abrir para corporate ventures. Já que optaram por continuar com o mesmo modelo de negócios, os fundadores precisaram fazer mudanças. A mais drástica foi no meio de 2015, quando a 21212 mudou o posicionamento e anunciou que não abriria novas inscrições para seu programa de aceleração.   Isso não significa que a empresa fechou. No início daquele ano a ZeroPaper, uma das startups do portfólio, focada em gestão financeira para pequenas e médias, foi adquirida pela norte-americana Intuit. Apesar de não revelar valores por motivos contratuais, eles garantem que a saída rendeu um expressivo retorno sobre o investimento.

Foco no portfólio

Embora a saída da ZeroPaper tenha sido um sucesso, a equipe sabia que também contaram com a sorte. Foi no terceiro ano, algo bastante raro , diz Lacerda. Além disso, com mais de 40 empresas novatas no portfólio, os fundadores queriam dar mais atenção para os empreendedores, já que observaram que esse acompanhamento mais próximo fora essencial para o sucesso da ZeroPaper. Atualmente os sócios atuam de perto nas 14 companhias que mantém em seu portfólio. As mais conhecidas são a WeDoLogos, a Memed e a MaxMilhas. Sobre o futuro da aceleradora, os fundadores divergem. Enquanto Lacerca não pensa em voltar a realizar investimentos, Duton é mais otimista e já prevê mais acelerações. Com novas saídas é possível, penso em algo como [selecionar] 50 empresas ao longo de cinco anos.

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