Indústria quer aprimorar as embalagens para e-commerce

Sem padronização, lojas online entregam os produtos em grandes embalagens, que na maioria das vezes demoram a seguir para reciclagem.

São Paulo – Com a expansão das vendas por meio da internet, as fabricantes de embalagens de papel buscam alternativas para reduzir o desperdício do material utilizado nas entregas das empresas de e-commerce. A questão é nova no Brasil, mas já vem sendo debatida no mundo todo. Mesmo com a popularidade e o aumento das vendas, a maximização do tamanho das caixas para o envio dos produtos e o próprio retorno destas embalagens para a reciclagem ainda é um desafio no País. “As embalagens destinadas ao e-commerce ainda são pouco desenvolvidas”, conta o presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), Maurício Salvador.

Padronização das embalagens

Pelo lado da indústria, uma das maiores papeleiras do mundo também quer desenvolver alternativas para reduzir essas perdas no Brasil. Em entrevista ao DCI, o presidente da Klabin, Cristiano Teixeira, explica que a empresa vem discutindo com representantes do varejo online a possibilidade de padronizar a demanda por embalagens. “Normalmente, as empresas têm um tipo de caixa, dimensionada, em grande parte, pela de maior tamanho, mesmo que seja para a venda de itens menores. Então se completa com [plástico com] ar”, afirma. Segundo ele, com o crescimento da demanda do e-commerce também veio um aumento da necessidade pela fibra, que é a matéria-prima para o papelão ondulado das embalagens, o que têm aumentado e pressionado os preços. “Quando a venda acontece no varejo [físico], as lojas já estão preparadas para que toda aquela embalagem seja destinadas aos aparistas, que retornam o papelão para a reciclagem. Já na venda online, essas embalagens acabam ficando paradas nas casas dos clientes, com exceção de casos onde a coleta é mais centralizada”, diz Teixeira.

O executivo da Klabin reforça que existe uma dinâmica, atualmente, de exagero e que deveria se pensar em tamanhos diferentes para atender o novo momento do consumo. “O cliente [do e-commerce] geralmente compra um, dois ou três itens, de tamanhos e dimensões diferentes. É preciso a padronizar o tamanho das caixas”. No entanto, o presidente-executivo da Associação Nacional dos Aparistas de Papel (Anap), Pedro Vilas Boas, aponta uma dificuldade em padronização as embalagens. “Uma varejista de vinho que adquira uma embalagens para a venda de seis garrafas usará a mesma caixa se vender três vinhos”. Vilas Boas também observa que a variação de canal prejudica a qualidade da matéria-prima captada para a reciclagem, já que as embalagens vem com uma qualidade inferior em relação à captada diretamente do varejo físico. “Essa mudança de canal [de venda] traz ainda um maior tempo de retorno, que vem impactando no volume”, afirma, projetando, para o segundo semestre, uma menor disponibilidade de aparas para reciclagem, pelo crescimento das encomendas destinadas às vendas de final de ano, impulsionadas pelo Natal, que deverão retornar apenas a partir de janeiro aos aparistas. “Nesses momentos de aumento da demanda começa a existir a alta nos preços”, explica o diretor da Anap.

O gerente de Estudos Econômicos da consultoria Pöyry, Manoel Neves, reforça ainda a dificuldade de recomposição de caixas, vendidas na internet, por não saírem dos grandes magazines, que já contam com um círculo de equipes de reciclagem estabelecido. “Muitas vezes o descarte em casa não é o mais apropriado, como no varejo tradicional, pela demora no retorno”, salienta.

Embalagens - e-commerceExpansão

O certo é que as vendas por meio da internet são uma realidade consolidada e caminhos precisam ser encontrados para melhorar o retorno da matéria-prima para a fabricação de novas embalagens. Segundo a consultoria de comércio eletrônico Ebit, o volume de pedidos por meio da internet saltou de 53,7 milhões em 2011 para 106,3 milhões no ano passado, o que representou uma expansão de quase 98%. Em faturamento, porém, a expansão no período foi ainda maior, de 137,4%, atingindo em 2016 um total de R$ 44,4 bilhões comercializados. Segundo o presidente da Ebit, Pedro Guasti, a perspectiva de aumento das vendas do e-commerce contrasta com o do varejo físico, que foi mais impactado pela crise política e econômica. Atualmente, diz ele, a fatia do comércio eletrônico sobre a venda consolidada do comércio já atinge 4,5%. “Ainda pode ser considerada uma fatia pequena, mas como o varejo tradicional vem recuando, isso abre espaço para uma maior presença da venda online sobre o total consolidado”, comenta.

O executivo da Ebit acrescenta que falta no Brasil exemplos como o da Amazon, que tem um padrão de caixa para cada tipo de entrega. “Quando uma empresa tem poucos itens à venda fica mais fácil contar com embalagens mais apropriadas, mas quando o varejista tem múltiplas categorias isso se torna um problema”, comenta. Para Salvador, da ABComm, não existe padronização no Brasil, sobretudo, por uma falta de planejamento. “As lojas virtuais não contam com uma estratégia de compra de embalagens”, comenta ele, afirmando que o lojista virtual se preocupa apenas com o custo. Conforme Salvador, essa dificuldade afeta, sobretudo, as varejistas de menor porte. “Os grandes ainda conseguem uma melhora negociação, obtendo maiores variedades de tamanho. Já o pequeno e médio fica restrito a dois ou três tamanhos. Então busca uma maior quantidade com menor variedade de tamanhos”, afirma. Ele diz, porém, que há caminhos para evitar o desperdício, como ocorre na Europa. Lá, diz Salvador, a composição de embalagens vem sendo desenvolvidas através de grandes folhas de papelão com várias possibilidades de dobras, que podem ser dobradas e cortadas de diversas maneiras, aumentando a utilização da embalagem em diversos produtos.

O atendimento dos pequenos varejistas é uma preocupação da Klabin, comenta Teixeira. “O problema para elas é exatamente o excesso, já que necessitam de tiragens menores. Então, para uma tiragem pequena, elas precisam se associar a empresas menores de soluções de embalagem, como as de cartonagem, ficando sem acesso aos grandes fabricantes pela questão de tiragem”, diz. Teixeira destaca que a empresa vem discutindo alternativas. Uma das possibilidades em discussão é a impressão digital, que pode ser utilizada para menores quantidades, frente ao método tradicional. “Neste formato conseguimos trabalhar com quantidades menores, trazendo um dinamismo maior”.

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