Vai ter apagão de energia elétrica no Brasil em 2021?
Especialistas apontam que, por conta da seca de rios, o País pode ter um racionamento em massa do recurso
Com a maior escassez hídrica no Brasil em 91 anos, algumas pessoas têm se perguntado se vai ter um apagão em 2021, assim como houve no começo do século. Por isso, alguns motivos levam especialistas a considerarem a hipótese de ter um desligamento da energia elétrica em todo o Brasil.
A falta de chuvas e aumento da temperatura fazem com que os reservatórios de água das hidrelétricas, principais geradoras de energia elétrica no País, fiquem reduzidos. Logo, o serviço se torna cada vez mais trabalhoso, e o recurso, cada vez mais escasso. Com isso, a energia fica mais cara no bolso do consumidor, e também impacta na produção de outros bens.
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Por que pode ter falta de energia no Brasil?
A crise energética provocada pela falta de chuvas e a consequente baixa dos reservatórios das hidrelétricas deve ter como principal efeito em 2021 o aumento da conta de luz, impacto que já chegou ao bolso dos brasileiros e encarece a produção no País.
Todavia, o apagão total no fornecimento de eletricidade não deve acontecer, no entendimento do governo federal. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) indica uma pequena chanca de desligamentos pontuais, em momentos e lugares estratégicos.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, em entrevista ao jornal BBC News Brasil, afirmou que o Brasil não vai correr o risco de ter apagão em 2021. Ou seja, um corte nacional de energia elétrica. Porém, sua maior preocupação tem sido com o próximo ano, 2022.
Em geral, a expectativa é de que as chuvas continuem escassas, muito por conta do fenômeno climático El Niña.
Velloso ressaltou que é necessário acelerar o desenvolvimento de pequenas centrais específicas do Brasil, para reduzir as chances de apagões. Ele também entende que isso já tem sido feito pelo poder público.
Além disso, ele entende que o País otimizou a distribuição do sistema elétrico para evitar que falte energia em algumas regiões, enquanto sobra em outras. Por fim, a oferta de fontes de energia alternativas às hidrelétricas, tais como as termelétricas, aumentou.
Onde foi o apagão no Brasil 2001
Alguns não se lembram, mas há 20 anos, o Brasil passou por um racionamento de energia elétrica. Em 2001, a gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB) tomou medidas drásticas para evitar que o sistema sofresse um colapso. Naquele momento, blecautes foram adotados para reduzir o consumo do recurso energético, já que rios das regiões nordeste, centro-oeste e sudeste registraram ampla escassez.
A população e empresas tomaram uma série de medidas, como a troca de lâmpadas e equipamentos, para diminuir o gasto. Ruas ficaram sem iluminação pública e eventos esportivos ou de entretenimento em geral foram proibidos. Mesmo impopular, essa decisão foi vista por especialistas com bons olhos, já que evitou maiores danos.
Ainda que todo o Brasil tivesse adotado a medida do pagamento extra, já que a decisão era válida em todo o território brasileiro, alguns estados foram os mais afetados, já que tiveram o recurso desligado temporariamente. Foram eles:
- Alagoas
- Bahia
- Ceará
- Distrito Federal
- Espírito Santo
- Goiás
- Maranhão
- Minas Gerais
- Mato Grosso do Sul
- Mato Grosso
- Paraíba
- Pernambuco
- Piauí
- Rio de Janeiro
- Rio Grande do Norte
- Sergipe
- São Paulo
Como foi o apagão em 2001?
O então governo federal pretendia que cada local reduzisse em 20% o consumo. O racionamento aconteceu para consumidores residenciais e industriais no Distrito Federal e em mais 16 estados, das regiões sudeste, centro-oeste e nordeste. A medida começou em 17 de maio, para casas e ruas, e durou nove meses. Em seguida, no começo de junho, foi a vez dos setores do comércio e indústria.
Por meio de medida provisória, a conta de luz passou a ter alguns bônus para quem aderisse ao projeto. Contudo, multas foram aplicadas e para quem se recusasse a reduzir parte do consumo. Assim, quem descumprisse era notificado e, caso fosse reincidente, poderia ter até a energia cortada.
Há duas décadas, foi decidido que quem consumia mais de 100 quilowatts (kWh) de energia por mês tinha de estar de acordo com essas ações. Para contas com mais de 200 kWh, o consumidor pagava uma taxa de 50%, e para contas superiores a 500 kWh, o acréscimo era de 200%.
Vai ter apagão em 2021?
O atual governo federal, de Jair Bolsonaro (sem partido), decretou a criação da bandeira da escassez hídrica, que impacta diretamente no aumento na conta de energia. Desta forma, o preço da luz tem sido cada vez maior, de forma a estimular a redução no consumo em casas e indústrias.
Ainda assim, especialistas ouvidos pelo portal UOL dizem que a gestão tem deixado de admitir uma eventual necessidade de apagão, além de ter anunciado as medidas para desestimular o gasto com energia, somente em agosto deste ano.
Portanto, se o Brasil não adotar, em massa, as ações paliativas para manutenção do recuso, pode ser necessário suspender o fornecimento em determinadas áreas, por parte das concessionárias locais de energia, de forma pensada. No entanto, os apagões podem acontecer de forma inesperada, quando o sistema elétrico apresentar falhas e deixar de fornecer energia.
O ex-diretor da do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata, afirmou que o País tem duas alternativas. A primeira seria aumentar a oferta, e a segunda seria reduzir a demanda. Contudo, ele entende que as ofertas já foram esgotadas. Logo, só restaria a redução.
No entanto, o pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Diogo Lisbona, ressaltou que a mudança de bandeiras – causadas pela ativação de termelétricas para conter a crise – não tem impacto expressivo a curto prazo. “A bandeira é um instrumento que sinaliza o custo do fornecimento de energia, mas não é suficiente [para o momento atual]. Elas têm esse objetivo de arrecadação e também de sinalização [para o consumidor], mas essa sinalização é parcial e atrasada. Só o aumento da bandeira não vai promover redução de consumo. É preciso ser muito explícito com o consumidor, dizendo que ele precisa economizar”.
O que diz o governo sobre apagão em 2021
O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, na coletiva feita em 31 de agosto, pediu que a população passe a economizar energia, mas afirmou que o governo não trabalha com a hipótese de racionamento em, pelo menos, outubro e novembro.
Já o vice-presidente, Hamilton Mourão, chegou a afirmar que a crise poderia perdurar por vários anos, por conta da falta de chuvas, e que haveria possibilidade de medidas mais severas, consideradas impopulares por boa parte das pessoas.
Em nota, o ONS afirmou que toma “medidas técnicas e operacionais cabíveis” para evitar que a população deixe de ter luz em suas casas, ainda que não tenha comentado sobre se vai ter apagão em 2021.
Vale lembrar que, mesmo que especialistas apontem a possibilidade de um racionamento, o discurso oficial tem sido apenas de alertas. Em agosto, o executivo emitiu aviso sobre “emergência hídrica”, que perduraria até setembro deste ano, nos estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná.
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