Ibovespa fecha em queda sob pressão de cenário da pandemia
No dia em que o Brasil contabilizou 300 mil mortos pela covid-19, reunião tensa do presidente Jair Bolsonaro com líderes políticos gerou preocupação no mercado, que também olha apreensivo o crescimento dos casos de contaminação na Europa
Na contramão da abertura, e depois de passar a maior parte do pregão em alta, o Ibovespa fecha em queda e encerra a quarta-feira, 24, com perda de 1,06%, aos 112.064 pontos. O giro financeiro foi de R$ 30,31 bilhões.
Pesou a piora das bolsas internacionais, que ainda não digeriram os lockdowns mais prolongados do que o previsto devido ao agravamento da pandemia com novas variantes do vírus. No mercado doméstico, o principal fator ainda está ligado à pandemia e a crise sanitária gerada pela falta de controle da doença e a pela falta de soluções eficazes nacionais.
Ibovespa fecha em queda nesta quarta-feira
As expectativas positivas do mercado em relação à reunião do presidente Bolsonaro e do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, com os presidentes do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, e com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira, além de alguns governadores e ministros, para discutir um plano emergencial e nacional de combate à pandemia, até levaram a bolsa paulista a se sustentar no campo positivo durante praticamente quase todo o dia. Mas o otimismo durou pouco.
O governo anunciou, ao final da reunião, a criação de um comitê permanente de saúde para coordenar ações de enfrentamento da pandemia, pregou a união na fala de seu ministro da Saúde, que anunciou a meta de vacinar 1 milhão de pessoas por dia. Mas pesou mais no mercado a fala do presidente Bolsonaro, que insistiu no tratamento preventivo da covid-19 em seu discurso pós-reunião, no dia em que o Brasil alcançou 300 mil mortos pela doença.
O Índice também se mexeu para baixo com as notícias dos bastidores da reunião. Informações sobre o que aconteceu no encontro, publicadas em veículos de imprensa, acabaram trazendo de volta a desconfiança em relação a uma solução para a crise sanitária. O clima teria sido tenso, segundo relataram alguns participantes, com fortes cobranças ao presidente. Some-se a isso os rumores da saída do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, por pressão de parlamentares.
À tarde, nova pressão. Um grupo de 16 governadores enviou carta ao Congresso pedindo valor maior do auxílio emergencial, de R$ 600. O auxílio que deverá ser aprovado efetivamente pelo governo fala de parcelas que vão de R$ 125 a R$ 350 no máximo.
Outro fator que pressionou o índice para baixo foi a notícia do meganavio encalhado no Canal de Suez nesta quarta-feira. O canal é o principal ponto de escoamento do petróleo produzido em países como a Arábia Saudita. A preocupação com o congestionamento de navios gerada pelo encalhe e com receio de atraso na oferta do produto fez os contratos do petróleo Brent e WTI registrarem forte alta. O tipo Brent subiu 5,4%, para US$ 64,04.
Carrefour
A grande notícia positiva veio do setor corporativo, com o anúncio, pela manhã, do Carrefour Brasil da assinatura de intenção de compra Grupo Big, pertencente ao Walmart. Após o anúncio, as ações da varejista abriram em alta de 15%, reduziram para 13% durante o dia encerraram com pouco mais de 12% de valorização. A aquisição, se aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), consolidará o Carrefour Brasil na liderança no mercado de varejo alimentar. O negócio, de R$ 7,5 bilhões, é um dos maiores no setor de varejo alimentar dos últimos tempos.
Se aprovada pela Cade, a compra não apenas ampliará a presença da subsidiária do grupo francês nas regiões Nordeste e Sul do País, onde o grupo tem uma participação mais modesta, como dará margem para a criação de sinergias de R$ 1,7 bilhão ao Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da companhia, após três anos da conclusão da operação.
O dólar fechou com alta de 2,25%, vendido a R$ 5,6386 na venda e a R$ 5,6380 na compra.