Empreendedorismo ganha força entre mulheres brasileiras
Levantamento apontou que 38% dos pequenos negócios são liderados por mulheres. Entre os MEIs, o número sobe para 43%.
São Paulo – Impulsionadas pela crise econômica que já dura três anos, desde junho de 2014, o empreendedorismo avança entre as brasileiras. A avaliação é que elas estão mais dispostas a superar dificuldades e completar a renda familiar. Segundo um levantamento da sueca iZettle encomendada ao Instituto Qualibest com 831 pessoas no Brasil, 38% desses pequenos negócios são liderados por mulheres, e entre os Microempreendores Individuais (MEIs) essa participação alcança o percentual de 43% da amostra. “O empreendedorismo vem crescendo nos últimos anos e a mulher tem um papel importante nesse processo. Ela começa um pequeno negócio para ajudar a família, para completar a renda porque alguém perdeu o emprego”, diz o CEO da iZettle no Brasil, Daniel Bergman.
O levantamento também mostrou um elevado grau de instrução na amostra coletada. “O resultado é muito mais alto do que a gente esperava. 49% dos entrevistados tinham superior completo e 18% pós-graduação ou mais”, observou o executivo. Com 70% desses empreendedores com nível superior incompleto, superior completo ou algum tipo de pós-graduação, as chances de as empresas decolarem no médio prazo é maior. “Identificamos, por exemplo, que a média de idade dos respondentes é de 40 anos, acima do nosso padrão na Europa, na faixa dos 25 anos. O alto grau de escolaridade foi outra surpresa”, explica Bergman. Para a empresária e sócia da Zeit Traiding, Carla Strafacci, as mulheres estão mais preparadas para enfrentar o mercado. “É uma característica feminina, estamos sempre estudando e desenvolvendo habilidades diferentes”, disse a executiva, também sócia de uma empresa de cosméticos.
Perfil empreendedor
Sobre o perfil empreendedor para liderar negócios, Carla Strafacci comentou a necessidade de desafios. “Sempre tive uma vocação empreendedora. Por melhor que fosse o trabalho [assalariado] nunca estava satisfeita, eu tinha que fazer uma coisa nova, um projeto diferente”, disse Carla. Na opinião da executiva, a crise econômica persistente também está incentivando a complementação de renda. “A necessidade faz a mulher se jogar numa empreitada, ter que se virar”, destacou a sócia. Na visão do professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Nelson Destro Fragoso, as mulheres já estão dominando o mercado. “Os homens são confiantes em achar que a vida está ganha, e estão ficando mais atrasados 0027, disse. Da sua experiência com a incubadora de empresas da universidade, o professor relata que o perfil feminino está se preparando melhor para enfrentar situações diversas. “Elas apresentam seriedade e dedicação aos trabalhos”, diz.
A professora de sociologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Carla Cristina Garcia, aponta, no entanto, que o avanço do empreendedorismo feminino nada tem a ver com o chamado “empoderamento” da mulher. “Na realidade, o mercado de trabalho está tão precarizado, que a opção restante é o emprendedorismo”, alerta. Cristina Garcia lembra que os cursos e as profissões mais disputadas pela sociedade são dominados pelo sexo masculino. “Basta dar uma olhada nos cursos de engenharia e tecnologia, a maioria é homem”, diz.
Diferença salarial entre homens e mulheres
Outra pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) evidenciou que a diferença salarial entre os homens e mulheres diminuiu de 25% em 2010 para 23,6% em 2015. “Já existem pesquisas mais recentes que mostram que com a crise, a diferença salarial entre homens e mulheres voltou a aumentar e está em torno de 30%. Nos postos com menor qualificação, a diferença não é tanta. O problema é que nas vagas que exigem melhor qualificação, a diferença salarial cresceu ainda mais”, avisa Carla Cristina Garcia, professor da PUC-SP.
Os dados antigos da pesquisa do IBGE, de 2010 a 2015, mostram que as mulheres aumentaram sua participação em: atividades científicas e técnicas (+3,3%); artes, cultura e esportes (+3%), atividades imobiliárias (+2,6%), atividades financeiras e de seguros (+2,6%), indústria extrativa (+2,3%), alojamento e alimentação (+1,9%), e reduziu a presença em educação (-1,6%). Na distribuição por segmento, a participação da mulher no setor público praticamente ficou estável entre 2010 a 2015, com 58,3%, frente 41,7% dos homens. Nas entidades empresariais, a participação feminina subiu de 36,2% em 2010 para 38,8% em 2015. E nas entidades sem fins lucrativos, a participação feminina elevou-se 53,3% para 55,8% nesse comparativo de cinco anos. “Nos postos de chefia das empresas, a presença feminina é muito menor”, conclui a professora da PUC. De fato, apenas 11% de CEOs (chefes) de empresas são mulheres.