O que pode acontecer com bolsa, dólar e juros em maio
Investimentos não devem ficar imunes às turbulências da instabilidade política já no radar do mercado
O mercado financeiro inicia novo mês que pode trazer mais turbulências provocadas pela instabilidade política, algo que já vem no radar dos investidores mais como um ponto para monitoramento do que como fator perturbador dos negócios. O fator de instabilidade aos mercados, de acordo com os especialistas, é a CPI da Covid, já instalada no Senado, que começa os trabalhos de apuração da ação do governo no combate à pandemia.
Um acirramento da crise política, durante o andamento dos trabalhos de investigação da comissão, pode criar instabilidade nos mercados, com possível queda da bolsa de valores e pressão de alta sobre o mercado de dólar.
A expectativa com o início dos trabalhos da CPI da Covid divide a atenção dos investidores com a reunião do Comitê de Política Monetária Copom), do Banco Central (BC), que decidirá o rumo da taxa básica de juros, Selic, acomodada em 2,75% ao ano desde março.
A expectativa praticamente consensual do mercado é de que o colegiado do BC repita na quarta-feira, dia 5, o aumento de 0,75 ponto porcentual do encontro anterior, que elevou a Selic de 2% para o patamar atual. Nesse caso, a Selic passaria para 3,5% ao ano, se a previsão for confirmada.
O especialista e sócio da Valor Investimentos Davi Lelis acredita que não haverá surpresa. “Se a decisão do Copom vier em linha com as expectativas, o mercado financeiro reagirá na normalidade, sem surpresa”, afirma, lembrando que, em março, o aumento de 0,75 ponto porcentual, acima da aposta majoritária dos analistas e economistas, causou mal-estar e certo estresse no mercado.
Lelis diz que o 0,75 ponto sobre a Selic atual já está precificado (incorporado) no preço dos ativos, sobretudo de ações e de dólar. “Se vier acima do esperado, poderá provocar uma desvalorização das ações, por causa da piora nas condições financeiras. Os custos do crédito e da dívida das empresas sobem e o faturamento e os lucros diminuem. Se vier abaixo, a bolsa pode reagir positivamente.”
Além do foco no Copom e nos desdobramentos da CPI da Covid, os investidores acompanharão atentamente o cronograma e o ritmo de vacinação contra o coronavírus, a disponibilidade de vacinas, a quantidade de doses aplicadas, entre outros pontos que envolvem essa questão.
“Afinal de contas, todo o resto, na economia e tudo o mais, depende da evolução desse cenário da pandemia e de medidas de combate ao coronavírus”, afirma. “Se o quadro sanitário não evoluir favoravelmente, comércio, serviços, retomada da economia, nada disso voltará à normalidade sem o controle da pandemia.”
Da evolução dessa cruzada contra o coronavírus, nesse caso em escala mais ampla e global, dependerá também a trajetória do dólar. “Um quadro de agravamento da pandemia e vacinação lenta pelo mundo tende a empurrar o investidor para o dólar, em busca de segurança e proteção.”
Sinais de controle da pandemia, por meio de um programa de imunização eficiente pela aplicação rápida de vacina, tenderiam a criar uma expectativa positiva para a economia global e deprimir o dólar. “No Brasil, uma alta da Selic poderia ajudar mais esse movimento e o dólar vir para patamares ainda mais baixos, em torno de R$ 5,20.”
Influência do cenário externo nos mercados
O quadro externo também deve ser acompanhado atentamente pelo investidor, já que movimentos globais de bolsas e moedas, sobretudo nos Estados Unidos, influenciam o comportamento do mercado doméstico. Como ocorreu em abril, quando, segundo especialistas, os diversos segmentos reagiram mais a fatores externos do que a domésticos.
O especialista da Valor Investimentos destaca que atraem atenção a sinalização do Fed (Federal Reserve, banco central americano), Jerome Powell, de manter os estímulos monetários (portanto, juros baixos) e as negociações do presidente Joe Biden, no Senado, para a aprovação dos pacotes trilionários de incentivo à economia. “Se tanto as promessas de Powell quanto as conversas de Biden com o Senado caminharem favoravelmente, poderá haver uma injeção de otimismo nos mercados.”