Crise na Argentina: entenda porque o país congelou tarifas de celular, internet e TV
Alberto Fernandéz afirmou que a medida de congelamento é necessária para que todos tenham acesso aos meios de comunicação no país, que tiveram seus preços elevados pela crise econômica.
O atual presidente argentino anunciou na sexta passada que vai congelar as tarifas de celular, TV e internet no país. Governo da Argentina alega que essa decisão tem a ver com o momento turbulento em que o mundo se encontra e com a crise econômica vigente no país. Por isso, entenda melhor o congelamento das tarifas pelo governo e a crise que a Argentina se encontra.
Crise econômica na Argentina
Contudo, os argentinos já vêm experimentando uma recessão antiga. 2020 já é o terceiro ano de queda na economia e aumento na inflação do país latino. Especialistas apontam que a Argentina pode estar caminhando para seu pior momento econômico em 20 anos.
Portanto, a situação teria se iniciado no governo anterior, de Maurício Macri, que tomou a maior ajuda da história do Fundo Monetário Internacional (FMI), US$ 56,3 bilhões (cerca de R$ 314 bi), levando o país à altas dividas públicas.
No começo do mês, o atual presidente, Alberto Fernandéz, conseguiu renegociar a divida externa com o FMI. Mas a situação não está controlada, economistas preveem uma queda de 12% no PIB argentino nesse ano. A Argentina, em 2019, teve uma inflação acima de 53% no ano. Nos primeiros sete meses de 2020, a taxa acumulada chega a 15,8%, com uma tendência de aumento nos próximos meses. O peso argentino está desvalorizado também, sua cotação gira em torno de 73 pesos para um dólar americano.
Ademais, com a pandemia do coronavírus, a situação econômica se agravou. O país está passando pela maior quarentena já enfrentada no mundo. já faz mais de 5 meses que o governo reafirma o isolamento social e mantém os comércios não essenciais fechados. Ainda no começo do mês, Fernadéz prorrogou a quarentena. Por isso, hoje, o país enfrenta uma grave crise economia, além de tentar frear os impactos na saúde pública. Segundo o ministério da saúde argentino o número de casos de COVID-19 passa dos 300000. E o país ultrapassa a marca de 6000 óbitos provocados pela doença.
Além disso, as reservas em moeda americana estão baixas. Hoje, se resumem a 10 bilhões de dólares. No Brasil, que possui uma boa quantia guardada, esse valor é da ordem de 400 bilhões.
Congelamento de tarifas na Argentina em crise
Na sexta-feira (21) o presidente argentino, Alberto Fernandéz, publicou em seu twitter que as tarifas de televisão, celular e internet serão congeladas até 31 de dezembro de 2020.
Então, horas depois o Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) foi publicado no Diário da União. Esse decreto estabelece que os futuros aumentos “deverão ser justos, razoáveis” e autorizados pelo governo. Algumas tarifas já estão congeladas desde dezembro do ano passado, como é o caso da energia elétrica. O Governo afirmou no decreto que esses serviços passam a ser “essenciais e estratégicos”. “Decidimos declarar como serviços públicos a telefonia móvel, os serviços de internet e a TV por assinatura. Dessa maneira, garantimos o acesso desses serviços para todos”, Fernandéz postou em suas redes sociais. As empresas de telefonia móvel e de internet já tinham anunciado aumentos de 15% a partir de 1° de setembro.
Mesmo com resistências à medida, Fernadéz argumentou que “A educação, o acesso ao conhecimento, à cultura e à comunicação são direitos básicos que devemos preservar”. O presidente alega que na situação de isolamento social, a tecnologia é a melhor forma para as pessoas se educarem, por isso, deve ser considerado um serviço essencial, com acesso garantido a todos. O presidente informou, além disso, que irá ordenar que as empresas ofereçam “planos inclusivos de prestação básica, universal e obrigatória” para a parcela mais pobre da população.
Crise política
Então, com todos os problemas econômicos e a insatisfação popular com a longa quarentena, Alberto Fernandéz viu sua aprovação cair de 82%, em abril, para 40% em agosto.
Protestos foram realizados na capital da Argentina, Buenos Aires, e em pelo menos outra meia dúzia de cidades no final da tarde do dia 17 de agosto. As manifestações foram convocadas para criticar o governo do presidente, Alberto Fernández.
Além disso, o jornal argentino La Nación destaca que os motivos da revolta popular passam por questões estruturais, como o aumento da inflação e a crise econômica, uma proposta de reforma judiciária.
Oposição
Alguns políticos opositores à Fernadéz fizeram criticas a sua decisão de congelar as tarifas. Entre eles, Patricia Bullrich, chefe do partido Propuesta Republicana. Ela postou em seu twitter: “Planos mais baratos, menos concorrência, menos investimento, e, como resultado, uma lacuna maior na sociedade”. E completou: “Esta não é uma política pública errônea, mas uma visão que Cristina Fernández de Kirchner tem, apoiada no modelo venezuelano“.
Silvana Giudici, ex-presidente da Entidade Nacional de Comunicações na gestão de Mauricio Macri afirmou, também em seu twitter, que o país está voltando a um esquema ultra-regulado e que assustará os concorrentes. Além de colocar mais desafios à sobrevivência das pequenas e médias empresas.