A crise do ovo pode chegar no Brasil em 2023?
Crise do ovo impactou países da União Europeia, os EUA e a Nova Zelândia. No Brasil, cenário é diferente
A crise do ovo, como ficou chamada a escassez global de ovos de galinha nas prateleiras de países como Inglaterra, Portugal, Estados Unidos e Nova Zelândia, têm preocupado não somente os consumidores dessas nações, mas também os brasileiros: afinal, é possível que esse cenário se repita aqui?
Para entender o que está acontecendo e quais são os riscos da crise reverberar no Brasil, é preciso, primeiramente, analisar o que está causando essa falta em outros países.
A falta de ovos nos Estados Unidos é causada, principalmente, por um surto de febre aviária. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, a doença já matou mais de 44 milhões de aves poedeiras, que correspondem a cerca de 4% a 5% do plantel norte-americano, impactando diretamente na disponibilidade de ovos para os consumidores.
Além disso, a legislação local em estados norte-americanos, como a Califórnia o Colorado, proíbe a criação de galinhas em gaiolas e, de acordo com especialistas, também está contribuindo para a escassez. Na Califórnia, a dúzia de ovos está saindo atualmente a US$ 7,37 – o que, na data de hoje, dia 30 de janeiro de 2023, equivale a R$ 37,53.
Já na Europa, a falta de ovos é um problema devido a gripe aviária, como também a alta dos custos de grãos e da energia elétrica devido, principalmente, à guerra entre Rússia e Ucrânia. O conflito também afeta outras áreas, como o abastecimento de gás para todo o continente, essencial durante os períodos de frio.
Crise do ovo no Brasil vai chegar?
Em entrevista para a BBC Brasil, o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e do conselho administrativo do Instituto Ovos Brasil, Ricardo Santin, afirmou a crise do ovo não deve chegar ao território brasileiro – porém, os preços devem seguir altos devido à uma produção menor esperada para 2023.
“Uma matriz produtora de ovos passa dois anos produzindo, então quando há um distúrbio nesse processo, os efeitos são sentidos até dois ou três anos à frente. […] O Brasil não está sofrendo isso [escassez de ovos]. Nós nunca tivemos influenza aviária e sofremos o problema do custo com mais força em 2020, devido à seca”, informou Santin.
A ABPA prevê que a produção brasileira deve cair para 51 bilhões este ano, uma diferença de um bilhão em relação à produção estimada de 2022. No entanto, as exportações devem aumentar 10% entre 2022 e 2023, justamente devido à escassez global do produto. A maior parte da produção nacional é destinada ao mercado interno, logo, especialistas esperam que o impacto na queda de preços seja mínimo.
Em nota publicada no início de janeiro, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Cepea/Esalq) afirma que, com o poder de compra ainda enfraquecido para boa parte da população brasileira, “ a demanda por ovos tende a seguir aquecida em 2023”.
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