Pandemia reduz poluição no Rio Tietê; entenda o porquê

Com 56 metros de largura e 26 km de leito canalizado dentro de São Paulo, o rio Tietê é uma das primeiras paisagens a cumprimentar quem chega à cidade pelo aeroporto de Guarulhos ou pelas rodovias Anhanguera e Bandeirantes.

Com menos lixo e fuligem de carros, a qualidade da água do Rio Tietê, maior curso de água do estado de São Paulo, apresentou melhora nos últimos. No entanto, o tamanho da mancha da poluição não foi contida e aumento em 2020, é  que revela estudo da Fundação SOS Mata Atlântica, publicado na terça-feira (22).

Neste ano, pelo menos 150 quilômetros (km) do rio foi avaliado como inapropriado para uso e inadequada para a vida aquática. No ano passado, o trecho morto – que inclui qualidade ruim ou péssima – alcançou a marca de 163 km. A menor mancha de poluição já registrada na série histórica do levantamento ocorreu em 2014, quando a extensão do trecho considerado morto foi de 71 km.

Melhora das águas do Rio Tietê com a pandemia

A boa notícia, segundo o relatório, é que em alguns trechos do rio melhoraram em qualidade. Agora, em 2020, o Rio Tietê tem 100 quilômetros de água limpa. No ano passado, o curso da água tinha apenas 44 quilômetros livres das águas classificadas com qualidade ruim.

Além disso, nenhum trecho do Tietê teve qualidade péssima em 2020. Esse nível de poluição foi encontrado apenas em pontos de coleta em afluentes. No ano passado, foram 18 quilômetros de água de péssima qualidade no Tietê.

De acordo com o estudo, as mudanças de comportamento da sociedade por conta da pandemia de Covid-19 contribuíram para a redução de poluição no rio Tietê, principalmente com a diminuição do lixo nas ruas e a fuligem de veículos. As análises foram feitas pelos voluntários entre setembro de 2019 e fevereiro de 2020, e depois realizadas em agosto deste ano. 

Por causa da pandemia, as equipes de monitoramento não puderam avaliar com a frequência necessária um trecho de 44 quilômetros entre São Paulo e Barueri, que historicamente está entre os mais poluídos. Segundo a própria organização, é razoável considerar que essa região permanece com qualidade ruim, apesar de não ser classificado como tal no relatório final. Por isso somam-se 194 quilômetros de rio

 

Poluição do Rio Tietê

Com 56 metros de largura e 26 km de leito canalizado dentro de São Paulo, o rio Tietê é uma das primeiras paisagens a cumprimentar quem chega à cidade pelo aeroporto de Guarulhos ou pelas rodovias Anhanguera e Bandeirantes.

E não é uma paisagem agradável: o cheiro de esgoto, o aspecto sujo e a falta de vida aquática tornam evidente que o maior rio do Estado está morto no trecho em que passa pela região metropolitana.

Historicamente, a mancha de rio morto no Tietê diminuiu bastante nas últimas décadas. Em 1993, quando começaram os primeiros programas de despoluição, ela passava dos 500 quilômetros, chegando até Barra Bonita, no centro do estado. Em 2010, com o fim da primeira etapa de limpeza, a mancha diminuiu quase pela metade. Ela continuou diminuindo até 2014, ano de crise hídrica. Com menor volume de água disponível, a poluição voltou a crescer em 2015.

Apesar da queda histórica e do renascimento no interior, São Paulo ainda está longe de conseguir despoluir definitivamente o rio. O Tietê recebe esgoto, resíduos industriais e lixo de 39 cidades da bacia hidrográfica.

Por outro lado, a condição de água boa e regular – o que permite vida aquática, abastecimento público, produção de alimentos, atividades de lazer e esportivas – foi encontrada em 382 km do rio, o que representa 66,32% do trecho monitorado.

Trecho monitorado

O estudo abrange, desde 2010, 576 km do rio Tietê, desde o município de Salesópolis, na sua nascente, até a jusante da eclusa de Barra Bonita, na Hidrovia Tietê-Paraná. O Tietê atravessa o estado por 1.100 km, desde sua nascente até a foz no Rio Paraná, no município de Itapura.

No entanto, para o relatório deste ano, não foi possível analisar 44 km (7,63%) do trecho historicamente monitorado devido às dificuldades impostas pela pandemia.

Esse trecho de 44 km, compreendido entre os municípios de São Paulo e Barueri, a partir da ponte da Rodovia Anhanguera, é bastante poluído e apresenta pouca variação na condição de qualidade da água nas séries históricas de monitoramento, segundo a SOS Mata Atlântica.

A entidade realizou a coleta em 83 pontos – distribuídos em 47 rios de 38 municípios -, seis (7,2%) mantiveram qualidade de água boa de forma perene, 55 (66,3%) regular, 21 (25,3%) ruim e 1 (1,2%) péssimo. Nenhum ponto registrou qualidade de água ótima.

Os pontos analisados estão distribuídos nas bacias hidrográficas do Alto Tietê, Médio Tietê, Sorocaba e Piracicaba, Capivari e Jundiaí.

Acesso à água

A fundação avalia ainda que a exclusão social do acesso à água limpa devido à falta de saneamento básico e moradia também emergiram de forma mais evidente com o efeito da pandemia e precisam ser motivo de atenção das autoridades.

“Pesquisas científicas constataram a presença do RNA (molécula responsável pela síntese de proteínas das células) de covid-19 na água dos esgotos domésticos. Isso não significa risco de contaminação, uma vez que essa doença não é de veiculação hídrica, mas reforça a importância de reconhecer como os rios são espelhos da saúde das populações, do ambiente e dos ecossistemas”, informou a entidade.

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