Cerveja artesanal: aprenda tudo o que se deve saber sobre a bebida

Um alimento muito antigo, que vive cercado de mitos, lendas e muitas duvidas. Que tal descobrir como comprar e beber?

A cerveja é um alimento muito antigo e repleto de lendas e mitos. Atualmente, é a terceira bebida mais consumida no mundo. No entanto, muita coisa ainda confunde o consumidor, como a diferença entre a cerveja artesanal e industrial e as formas de consumo e armazenamento. Existem também algumas curiosidades que nós adoraríamos desvendar.

História da cerveja

Há 11 mil anos, enquanto os homens saíam para caçar e levar a carne para casa, as mulheres ficavam responsáveis por cuidar dos grãos que eram mantidos dentro de jarros e que seriam usados para fazer pão. Foi dessa forma, meio por acaso, que a cerveja foi descoberta. Hoje em dia, já são incontáveis tipos, sabores e marcas de cerveja. No entanto, há quem diga, que elas são produzidas de acordo com o seu público. E tudo bem assim. Contudo, há um divisão clara, entre as chamadas “cervejas artesanais” e as “cervejas populares” ou “mainstream”.

Mas afinal, qual a diferença entre cerveja artesanal e industrial?

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Cerveja artesanal é um alimento encorpado (foto: the bull pub)

De acordo com o beer sommelier e mestre em estilos, Cesar Filho, de forma sintética, a cerveja popular ou mainstream é projetada para venda e consumo em grande volume e com o menor custo possível. “Para tanto, há considerável corte na qualidade e volume dos ingredientes”, explica. Na cerveja artesanal, o escopo é a produção de um alimento mais elaborado e com foco na maximização da experiência sensorial. “Em razão disso há produção em escala menor, com matéria prima mais nobre e consequentemente maior valor final.  Guardadas as devidas proporções é o mesmo raciocínio para se diferenciar um hambúrguer padrão de um hambúrguer artesanal ou gourmet”, analisa.

Pelo fato das produções de cervejas artesanais serem em teoria, menores, os mestres cervejeiros podem ousar. Principalmente quando falamos de ingredientes. Especiarias, castanhas, frutas e doces. Sim, até doce de abóbora pode compor uma cerveja artesanal. O que justifica a etimologia da palavra cerveja. De acordo com a beer sommelière, e mestre em estilos, Paula Damaa, os estudiosos indicam que o termo cerveja deriva de cerevisia, que era a palavra usada na Roma antiga e Gália (atual França) para nomear este alimento. A palavra ainda faz referência a Ceres, deusa romana da fertilidade, colheita e da força.

Cerveja é alimento?

Existe uma história de que os povos antigos usavam a cerveja para se alimentar. E sim, possui embasamento científico. A cerveja tem carboidratos, etanol, proteínas e aminoácidos, minerais, ácidos orgânicos, vitaminas, compostos fenólicos, componentes amargos de lúpulo e derivados, óleos essenciais e derivados, purinas, compostos alcoólicos e aminas biogênicas.

Ou seja, apesar do álcool fazer parte da composição da bebida, a cerveja é sim capaz de nos alimentar. E os especialistas vão além quando dizem que, em proporções moderadas, ela pode fazer bem ao organismo. O motivo? Ela reduz os riscos de doenças e acidentes cardiovasculares.

Jesus transformou a água em cerveja?

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Existe uma história que havia no lugar de vinho (foto: the bull pub)

Segundo Filho, uma curiosidade interessante é que cerveja já foi a primeira bebida mais consumida do mundo, vez que nos tempos antigos a ausência de saneamento básico e tratamento acarretavam muitas contaminações na água, tornando a cerveja uma bebida mais segura. Hoje é a terceira bebida mais consumida no mundo, perdendo apenas para água e o café.

Todavia, o que chama a atenção é outra discussão: “Há quem afirme,  que Jesus transformou  ‘água em cerveja’ e não ‘água em vinho’. Ainda segundo esta corrente, a correta tradução do aramaico seria: ‘transformou água em bebida forte’, que, para a região da mesopotâmia e época, provavelmente ensejaria tratar-se de cerveja e não de vinho. Entretanto, quando os gregos realizaram a tradução, indicaram que a bebida forte se tratava de vinho – a bebida forte mais comum para eles”, esclarece o beer sommelier.

“Outra curiosidade é que na antiguidade e até na idade média era comum os trabalhadores receberem parte do salário em cerveja. Já pensou se ainda fosse assim?”, brinca o especialista.

Como fazer uma boa cerveja?

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Chopp artesanal engatado em torneiras (foto: the bull pub)

A cerveja é composta por quatro ingredientes básicos: água, malte, lúpulo e levedura. Costuma-se acrescentar um quinto ingrediente fundamental, o conhecimento (expertise/talento) do mestre cervejeiro. “Assim como um belo poema é constituído pela construção e organização das palavras e signos por um poeta, uma boa cerveja é construída com a escolha dos ingredientes certos, combinados e preparados da forma adequada, culminando com o armazenamento e degustação da cerveja da forma correta”, explica Paula.

Para a mestre em estilos, esse alinhamento de fatores torna a cerveja boa e sua degustação uma “fantástica” experiência sensorial. “Dentre os diversos estilos de cerveja você poderá perceber aromas complexos de frutas ou flores. Na boca, o gosto de frutas, ervas, pão, chocolate, café, tabaco, vinho branco, bourbon. Cervejas amargas, doces ou  ácidas. Cada estilo possui suas características e com certeza cada pessoa encontrará um estilo para chamar de seu”, conclui.

A qualidade da água influencia o sabor da cerveja?

A água é muito importante para a cerveja. No passado, a sua qualidade  foi fundamental para o estilo e características de bebida. Entretanto, hoje, o líquido pode ser tratado e não exerce mais influência sobre o sabor da cerveja.

“Sabe aquela história que a cerveja de Agudos [cidade] é melhor por causa da água? Mito, não caia nessa. Hoje os mestres cervejeiros possuem tecnologia para deixar a água com as características que beneficiem o estilo de cerveja a ser produzido”, garante Filho. Todavia, mais de 90% da cerveja é água,  e uma fonte boa e abundante é a primeira escolha de qualquer um que queira iniciar um empreendimento cervejeiro.

Como armazenar a cerveja?

Para todas as cervejas, é importante sempre armazenar em local fresco, protegido do sol e umidade excessiva. No entanto, de acordo com Paula,  cada garrafa, precisa de um cuidado específico. “As cervejas com tampa de metal (e não rolhadas) devem ser armazenadas em pé, evitando o contato do líquido com a tampa”, explica.

O armazenamento das cervejas rolhadas gera grande discussão entre os especialistas. “Uns defendem o armazenamento igual ao das garrafas de vinho (deitado), enquanto outros sustentam que o ideal é o armazenamento em pé”, comenta.

“Uma boa dica, é consultar o rótulo da garrafa, que, por vezes traz a orientação recomendada pelo fabricante. Produtores como Chimay e Boon, por exemplo, recomendam que seus produtos sejam armazenados em pé”, orienta. Mas, para a beer sommelier não há motivos para ficar na dúvida. “Aqui no Brasil, recomendamos o armazenamento deitado, pois entendemos que esse modo traz menos riscos, principalmente para bebidas com mais de dois anos”, conclui.

Como consumir cerveja artesanal?

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A cerveja artesanal é composta por quatro ingredientes (foto: the bull pub)

Muito mais que bebida, a cerveja é um alimento dotado de grande complexidade sensorial. Os aromas, gostos e sensações são infinitos. “A melhor forma de degustar é em ambiente tranquilo, copo limpo, cerveja na temperatura adequada e serviço espuma na medida, ou seja, com colarinho. Entretanto, sua cerveja, suas regras”, explica Filho.

“Para uma degustação técnica, com a cerveja já servida, apreciamos a coloração e em seguida os aromas. Ato contínuo, um gole curto mas que permita o contato do líquido por toda a boca. Ao final de cada etapa anotamos todas as informações obtidas como cor, carbonatação, aromas percebidos, gostos, corpo e retrogosto”, diz Paula. Que ainda ressalta: “o importante é se divertir”.

Como escolher a cerveja artesanal ?

“Analise bem o rótulo e as informações lá contidas”, instrui Filho. Coloração, quantidade de álcool (ABV, GL ou %), intensidade de amargor (IBU) e estilo são informações básicas que auxiliam na escolha, assim como data de validade.

“Em geral, é a mesma regra do pão. Prefira as cervejas mais frescas e com data de vencimento mais longas. Não é à toa que a cerveja também é conhecida como pão líquido”, orienta o especialista.  Vale lembrar que, tal qual os vinhos, há também cervejas que envelhecem bem e são conhecidas como cervejas de guarda – em geral são cervejas com maior carga de malte e de maior teor alcoólico. Ou seja, só verifique de qual cerveja se trata.

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Cerveja artesanal é um estilo de vida (foto: the bull pub)

Dica dos especialistas

“Sua cerveja, suas regras! Como se diz no meio cervejeiro, quanto mais cerveja, ainda menos frescura. Cerveja é uma bebida democrática, social, refrescante, nutritiva e deliciosa. Há a cerveja certa para cada ocasião e momento, tal qual ocorre com música ou mesmo com o vestuário. Não faz muito sentido ir à praia de smoking e quase ninguém aguenta ouvir só música clássica ou death metal. Cada um tem o seu momento. Com a cerveja é o mesmo”, diz Filho.

“O que gostaríamos é de desafiar as pessoas a ousarem mais. Há um universo sensorial fantástico para além das cervejas mainstream ou populares. Beba menos, e beba melhor”, avalia Paula.

Especialistas: Cesar Augusto Garcia Filho, beer sommelier e mestre em estilos, ambos pelo ICB – Instituto da Cerveja Brasil/São Paulo e home brewer formado pela Sinnatrah | Paula Damaa, beer sommelière, mestre em estilos, ambos pelo ICB – Instituto da Cerveja Brasil/São Paulo e home brewer formada pela Sinnatrah

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