Com as novidades dos últimos dias a respeito da retomada do poder no Afeganistão pelo grupo extremista Talibã, vem à tona uma série de dúvidas sobre a história recente do país. O DCI te ajuda a entender mais sobre o que aconteceu por lá, como era a vida antes do Talibã, como foi durante seu primeiro período de poder e o que esperar no atual.
+ O que está acontecendo no Afeganistão hoje
Afeganistão antes da era Talibã
Antes da invasão dos EUA, antes da guerra na Rússia e grupos extremistas no país, o Afeganistão costumava ser um lugar muito diferente.
Hoje, imaginar que mulheres usavam minissaia chega a ser surreal diante da cena vista da tomada do País pelo grupo extremista Talibã.
Nos anos de 1960, o Afeganistão era um país que se passaria por qualquer outro da comunidade europeia. Só para se ter uma ideia antes do Talibã as mulheres afegãs eram livres, e representavam:
- 70% dos professores no País;
- 50% dos funcionários públicos e universitários;
- 15% do poder legislativo.
O Afeganistão na Guerra Fria
A história mais recente do Afeganistão ganha contornos mais evidentes no contexto da Guerra Fria (1947-1991), em que Estados Unidos e a então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, com o uso do poder geopolítico, lutavam entre si para alinharem os países em desenvolvimento (conhecidos como de terceiro mundo) ao sistema capitalista (chamados de primeiro mundo) ou ao comunista (denominados na época de países de segundo mundo).
O Afeganistão sinalizou um alinhamento ao segundo grupo em 1978, com a Revolução Marxista. Neste ano, por meio de um golpe de Estado, um grupo assumiu o poder para dar início a uma transição ao comunismo. No entanto, parte da população muçulmana levantou uma resistência armada conhecida como mujahideen, apoiada pelos Estados Unidos e pelo Paquistão.
Como o governo instalado não conseguiu frear a resistência, em 1979, a União Soviética ocupou o país para combater as tropas mujahideen. Nos conflitos, registra-se que mais de um milhão de afegãos perderam a vida. Ao fim, o exército comunista foi derrotado e retirou-se do Afeganistão de maneira gradual, entre 1988 e 1989.
No entanto, grupos internos continuaram lutando pelo poder, em uma franca guerra civil, até que, em 1992, as forças comunistas são definitivamente derrotadas e assume o poder uma junção de diversas facções rivais. Essa junção, porém, não durou frente às disputas internas. Esse contexto fez com que, em 1994, um novo grupo fundamentalista islâmico chegasse ao poder no Afeganistão: o Talibã.
A primeira Era Talibã (1996-2001)
Uma vez no poder no Afeganistão, o Talibã impôs regras duras ao povo afegão, baseadas em sua interpretação da fé islâmica (sharia) e que se destinava, em especial, às mulheres. Elas foram proibidas de ir estudar a partir dos 12 anos e de trabalhar, além de vestir burca que cobrissem seu corpo todo. Caso descumprissem as determinações, poderiam ser açoitadas. Se dirigissem automóveis eram punidas com a morte. As que fossem acusadas de adultério eram apedrejadas publicamente.
A ativista Malala, por exemplo, foi alvo de um atentado talibã por fomentar o estudo de meninas e mulheres. Aos quinze anos, foi atacada dentro de uma van em sua cidade por um soldado talibã que desferiu três tiros contra o seu rosto. Sobrevivendo, Malala se tornou uma grande voz no mundo sobre o acesso universal à educação.
Os ataques terroristas de 11 de setembro de 2011 aos Estados Unidos foram o ponto final desse período. O Talibã forneceu refúgio para a Al-Qaeda no Afeganistão, o que motivou a invasão do país pelos Estados Unidos, culminando na deposição do governo e no fim da sujeição das mulheres às leis talibãs.
A segunda Era Talibã (2021-)
Mesmo fora do poder desde 2001, o Talibã não deixou de existir e de exercer resistência às tropas americanas instaladas no Afeganistão. A ocupação do país pelos Estados Unidos foi alvo de grande controvérsia nos últimos anos, sendo cobrada sua saída.
Dessa forma, em 2018, o governo Donald Trump começou a negociar com o Talibã um acordo de paz. No fim do mandato presidencial, em 2020, as tropas começaram a ser retiradas. Em abril de 2021, o presidente Joe Biden afirmou que as forças americanas deixariam definitivamente o país em agosto de 2021.
Assim que as forças estadunidenses deixaram o país, em agosto de 2021, o Talibã rapidamente assumiu o controle de diversas cidades afegãs, até tomar o poder de sua capital, Cabul, e chegar novamente ao governo.
Nesses primeiros momentos, o grupo extremista tenta se mostrar moderado e, em seus primeiros pronunciamentos, afirma que direitos das mulheres que se adéquem à lei islâmica serão respeitados pelo novo governo.
Fotos do Afeganistão antes da guerra
Uma coleção surpreendente de fotos da década de 1960 veio à tona no início de 2013. Nos anos 60, o fotógrafo amador e professor universitário Dr. William Podlich tirou uma licença de seu trabalho na Universidade do Estado do Arizona para trabalhar com a UNESCO na capital afegã de Cabul, trazendo sua esposa e filhas com ele.
Mais tarde, seu genro Clayton Esterson encontrou as fotos do falecido médico e as colocou na web. Veja abaixo algumas delas:
À esquerda, uma foto mostrando a filha do fotógrafo em um parque agradável. À direita está o mesmo parque 40 anos depois.
Nos anos 60, essa loira atraía looks em um Afeganistão ainda muito conservador
Mas muitas pessoas também usavam roupas ocidentais nos anos 60
O Afeganistão teve um exército moderno com as reformas do rei Amanullah Khan na década de 1920.
Meninas e meninos em universidades e escolas de estilo ocidental foram encorajados a falar livremente uns com os outros.