Empresas de olho nos passos do Legislativo
Agenda política brasileira exige esforço dobrado das empresas que precisam ficar de olho no andamento de leis que podem afetar os negócios.
São Paulo – Cada vez mais movimentada e imprevisível, a agenda política brasileira exige esforço dobrado das empresas que precisam ficar de olho no andamento de leis que podem afetar os negócios. O cenário é perfeito para um grupo de empreendedores do interior paulista criador de uma plataforma para monitoramento do Legislativo. Na ativa há dois anos, a SigaLei já conta com 25 clientes entre associações setoriais, organizações do terceiro setor, instituições de ensino e departamentos de relações governamentais de empresas, com destaque para o setor do agronegócio.
A ferramenta também está caindo nas graças de escritórios de advocacia e consultorias que realizam monitoramento da agenda pública para terceiros. “A ideia é dar agilidade e liberar os ‘cérebros’ para fazer o que só eles conseguem fazer”, explica o diretor de estatística (ou CSO) da SigaLei, Ivan Ervolino, destacando o forte know-how tecnológico da SigaLei como diferencial. Atualmente, dos dez funcionários do quadro, seis vêm da área da computação – incluindo o fundador e um dos cinco sócios da empresa, Danilo Oliveira. Tal força de trabalho é necessária porque são os bancos de dados da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e das treze assembleias estaduais já cobertas pelo SigaLei que fornecem o insumo para a consolidação dos dados brutos, o cruzamento deles e a divisão das pautas em quarenta categorias temáticas.
Segundo Ervolino, muitas intituições públicas ainda têm dificuldades técnicas na disponibilização da informação. “Nesse caso temos que ir direto ao site e ‘raspar’ o dado”. Em outras ocasiões a Lei do Acesso à Informação (LAI) também surge como aliada. Uma vez munida dos dados, a SigaLei consegue oferecer uma gama ampla de serviços. “Podemos criar um mapa de proposições de alto impacto”, conta Ervolino, citando clientes que acompanham mais de três mil pautas de forma simultânea. A partir daí é possível traçar quem são os grupos com maior poder de influência em determinada área, projetar a tendência de votos a favor e contra de pautas e monitorar a velocidade em que elas tramitam, gerando alertas, entre outras funcionalidades. “Ao entrar no perfil do parlamentar também é possível saber quais temas ele mais trabalha”, adiciona o CSO, lembrando que até mesmo os discursos das figuras públicas são escrutinados pelo sistema.
Uma das metas da empresa é ampliar a atuação e passar a acompanhar o Legislativo de algumas capitais de maior relevância; um pacote simplificado e mais ‘acessível’ para pequenas empresas também está no radar. A meta no curto prazo, contudo, é abarcar todas as assembleias legislativas do País: há muito espaço para expansão no Norte e Nordeste. “Precisamos terminar o Legislativo primeiro”, afirmou Ervolino, quando perguntado sobre o interesse da SigaLei em monitorar agências reguladoras ou o poder Judiciário. Já a internacionalização rumo à América Latina já está em curso. “Fomos provocados por um cliente e hoje extraímos dados dos legislativos do Uruguai, Paraguai, Chile e Argentina”, conta o diretor de estatística.
Lobby de empresas do terceiro setor
Um desdobramento que poderia acelerar o volume de negócios da SigaLei na visão de Ivan Ervolino é a regulamentação da atividade de lobby. “Muitos escritórios de advocacia estão profissionalizando a parte do lobby e criando departamentos de relações governamentais, que são um setor como todos os outros dentro das empresas, com metas e cobranças próprias. É preciso separá-lo da carga negativa do tráfico de influência”, argumenta. Atualmente há dois projetos de lei (um na Câmara e outro no Senado) e uma proposta de emenda constitucional tramitando a respeito do tema – todos sem previsão de desfecho.
Por outro lado, a consolidação do advocacy – paradoxalmente conhecido como “lobby do bem” por partir de instituições do terceiro setor – vem gerando um mercado consistente para a SigaLei. “Hoje estamos conseguindo chegar às ONGs de forma mais segura”, afirma Ervolino, pontuando que entidades do terceiro setor eram mais arredias no início da operação. “Já hoje o interesse do terceiro setor é forte”.