Empoderamento: o que é e por que é tão importante

Empoderamento é um termo que vem adquirindo importância nos debates sobre igualdade de direitos e justiça social. Entenda suas origens e relevância atual.

Empoderamento é uma palavra nova na língua portuguesa, derivada do inglês empowerment. Recentemente, o termo tem sido largamente adotado por militantes e ativistas que lutam pelos direitos das minorias.

No dicionário Aurélio, encontramos a seguinte definição da palavra empoderar: “Ação de se tornar poderoso, de passar a possuir poder, autoridade, domínio sobre.”  Evidentemente, essa descrição é bastante vaga, deixando muito a ser definido. Afinal, de que tipo de poder estamos falando? E como acontece essa “ação de se tornar poderoso”?

Responder essas perguntas é uma tarefa complexa. Assim, o assunto se tornou tema frequente tanto de produção científica quanto de conversas coloquiais. Conheça os fundamentos do empoderamento e sua importância no momento em que vivemos.

 

O que é o empoderamento?

 

Primeiramente, devemos observar que empoderamento e poder são coisas bem diferentes. Para isso, é preciso entender melhor o que cada um desses termos realmente quer dizer.

 

Poder

 

Quando falamos de poder, existem muitos e amplos significados que essa palavra pode ter. Para o debate do empoderamento, encaramos o poder de duas formas: macro e micro.

O macropoder se refere à esfera política e econômica. Ou seja, o poder que está nas mãos dos governos e das instituições financeiras. Dessa forma, ainda que nem sempre seja possível perceber, o macropoder regula a sociedade e influencia nosso comportamento.

Logo, esse tipo de poder engloba as relações de dominação de forma menos pessoal. Por exemplo, através do currículo escolar determinado pelo governo. O conteúdo estudado pelas crianças afeta a forma como elas entendem o mundo. Assim, uma determinação governamental influencia o comportamento daquela geração.

Já o micropoder se refere às esferas menores e mais pessoais da sociedade. Por exemplo, a família, a Igreja, a escola, uma associação de bairro, etc. Através delas, o poder vai se diluindo e circulando na sociedade. Assim, todos temos um papel ativo na construção e disseminação do poder, pois ele atravessa as nossas relações de maneira mais ou menos pessoal.

 

 

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Imagem: reprodução / unsplash

 

Empoderamento

 

Primeiramente, a palavra “empoderamento” foi criada pelo educador Paulo Freire. O termo traz em si a ideia de minimizar e reverter os efeitos das opressões. Dessa forma, o empoderamento é uma ferramenta de combate à desigualdade. A intenção é resgatar a identidade e autonomia de pessoas que, ao serem constantemente oprimidas, perdem o poder sobre suas próprias vidas.

Se pensarmos nas duas esferas de poder de que falamos anteriormente, o macro e o micropoder, o empoderamento deve acontecer de duas formas. Primeiro, é necessário que as esferas públicas da sociedade devolvam aos cidadãos das minorias o poder que lhes foi retirado. Afinal, a origem das desigualdades também é a má distribuição dos recursos.

Assim, é incorreto acreditar que o empoderamento dependa exclusivamente de auto-aceitação e auto-estima. Pelo contrário, ele passa por uma série de questões muito mais materiais e práticas. O empoderamento dos oprimidos envolve acesso à educação de qualidade, informação, saúde pública e  moradia.

Em segundo lugar, o empoderamento deve acontecer nas esferas mais pessoais, em que o micropoder se encontra. Para isso, busca-se reverter os efeitos negativos da opressão sobre a percepção de si de cada pessoa dentro dos grupos. Assim, espera-se que cada um enxergue sua força e também a potência da comunidade a qual pertence. O empoderamento não deve ser um processo individual, mas sempre coletivo.

 

Nas livrarias

 

Em sua obra “Empoderamento“, a escritora feminista Joice Berth aborda o tema em profundidade. Nele, defende que o empoderamento é uma instrumento para a emancipação política e social grupos minoritários. Assim, ao contrário de outras estratégias com a mesma finalidade, evita a criação de relações de dependência. A intenção é sempre criar autonomia e independência.

Além disso, Joice Berth defende que a ideia não é apenas uma inversão das relações de opressão, levando o poder de uma mão para outra. O empoderamento defendido pela escritora é uma postura de enfrentamento da opressão. Logo, sua finalidade verdadeira é a eliminação do poder de uma pessoa sobre a outra, libertando a todos.

 

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Imagem: reprodução / instagram @joiceberth

 

Empoderamento Feminino

 

Agora que já sabemos o que é empoderamento, o empoderamento feminino fica mais fácil de entender. Se empoderar é devolver o poder a alguém que é oprimido, aqui a intenção é resgatar o poder das mulheres sobre suas vidas.

Assim, o empoderamento feminino é uma consciência coletiva, expressada por ações para fortalecer as mulheres e desenvolver a igualdade de gênero. Existem muitas formas de fazermos isso. Por exemplo, podemos usar os sete Princípios de Empoderamento das Mulheres definidos pela ONU Mulheres.

 

Sete Princípios de Empoderamento das Mulheres

 

1. Estabelecer liderança corporativa sensível à igualdade de gênero, no mais alto nível.

2. Tratar todas as mulheres e homens de forma justa no trabalho, respeitando e apoiando os direitos humanos e a não-discriminação.

3. Garantir a saúde, segurança e bem-estar de todas as mulheres e homens que trabalham na empresa.

4. Promover educação, capacitação e desenvolvimento profissional para as mulheres.

5. Apoiar empreendedorismo de mulheres e promover políticas de empoderamento das mulheres.

6. Promover a igualdade de gênero através de iniciativas voltadas à comunidade e ao ativismo social.

7. Medir, documentar e publicar os progressos da empresa na promoção da igualdade de gênero.

Esses princípios foram desenvolvidos pela entidade com a intenção de ajudar a comunidade empresarial. Através deles, empresas podem incorporar valores e práticas que visem à equidade de gênero e ao empoderamento de mulheres.

No entanto, as orientações da organização podem servir de inspiração para todos que buscam construir uma sociedade menos desigual. Além disso, isso não funciona apenas para mulheres, é claro. Podemos aplicar essas ações afirmativas para empoderar outros grupos também, como idosos, refugiados e pessoas com deficiências.

 

Por que o empoderamento é tão importante?

 

As discussões a cerca do empoderamento surgem em um momento em que os direitos das minorias ganham espaço. Sendo assim, existem muitas opiniões sobre como devemos combater a desigualdade de forma eficaz.

O empoderamento nos alerta para o fato de que construir um mundo mais igual vai muito além de distribuir dinheiro. É necessário que haja um resgate da autoconfiança e autogestão de que mais sofreram. Afinal, uma das formas de opressão mais eficazes é tirar das pessoas a confiança na sua capacidade de tomar decisões e administrar sua vida.

Por isso, quando falamos em empoderamento, podemos estar falando de ações muito diferentes. Para empoderar povos marginalizados, pode ser o resgate de seus saberes e tradições. Para empoderar mulheres que foram agredidas por seus maridos, pode ser uma política de emprego e moradia. Empoderar pessoas em cadeiras de rodas pode passar pela simples instalação de rampas de acesso nas calçadas. Tudo dependerá do que está entre a pessoa e sua independência.

O empoderamento passa por diversas aspectos mais e menos concretos para trazer alguém de volta a uma posição de poder sobre si mesmo. Por isso, é fundamental para a construção de uma sociedade em que todas as vozes são ouvidas. Afinal, para ser capaz de usarmos nossas vozes precisamos, antes de tudo, acreditar em nós mesmos.

 

 

 

 

 

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