Sebastião Salgado, o fotógrafo que já plantou mais de 2 milhões de árvores
Conheça a história do Instituto Terra, criado por um dos fotógrafos mais prestigiados do mundo, que há mais de 20 anos luta pela recuperação da Mata Atlântica.
Sebastião Salgado é um fotógrafo mineiro que conquistou o mundo com seu olhar único e suas imagens cheias de impacto e sentimento. Assim, usa as lentes para registrar e contar histórias de pessoas e lugares remotos e esquecidos.
Seu estilo e técnica incomparáveis lhe renderam quase todos os principais prêmios de fotografia do planeta. Mas Salgado foi muito além do fotojornalismo. Ele decidiu usar o trabalho para promover reflexões sobre cenários e questões sociais no Brasil e em muitos outros países.
Além disso, o engajamento de Sebastião Salgado o levou a criar o Instituto Terra, em 1998, ao lado de sua esposa, Lélia Wanick Salgado. O projeto nasceu com o intuito de recuperar uma área de Mata Atlântica em Minas Gerais. No entanto, o programa cresceu e hoje engloba também municípios do Espírito Santo.
O refúgio de Sebastião Salgado
Ao todo, mais de 2,5 milhões de árvores já foram plantadas na sede, a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Fazenda Bulcão. O objetivo atual almeja não só a restauração ambiental, como também o desenvolvimento sustentável da área rural do Vale do Rio Doce.
Hoje o local esbanja muitos tons de verde e abriga diversas espécies de aves, mamíferos, répteis e anfíbios. Mas não foi assim que Salgado e Lélia encontraram o espaço quando chegaram ali em 1994.
Na época, Salgado havia terminado a expedição fotográfica do livro Êxodos. A experiência, sem dúvida, marcou muito o fotógrafo. Isso porque viu de perto situações de violência e morte que envolviam a fuga de pessoas em diferentes partes do planeta. Afinal, a temática da obra é justamente essa: a história de migrantes, refugiados e exilados que tentavam se libertar da pobreza, repressão ou guerra em suas terras natais.
Então, quando chegou à própria cidade de origem, a pequena Aimorés (MG), Sebastião Salgado se entristeceu. Foi assim que ele descobriu que a fazenda que herdou da família estava deteriorada. Os rios estavam secos. Não havia mais fauna ou flora no lugar.
Como surgiu o Instituto Terra
A ideia de recriar a vida ambiental na fazenda foi de Lélia. Sebastião concordou e, juntos, eles começaram o Instituto Terra.
Para isso, montaram uma rede de voluntários e parceiros. São eles que ajudam a financiar e apoiar os programas da instituição. Atualmente, são pouco mais de 711 hectares e uma parte, aliás, está aberta à visitação pública.
No entorno do Vale do Rio Doce, Sebastião e Lélia oferecem ainda campanhas de educação ambiental para as comunidades locais. Ademais, prestam consultoria aos agricultores e garimpeiros da região.
Em 22 anos de existência, o Instituto Terra já reflorestou milhares de hectares de Mata Atlântica. Além disso, quase duas mil nascentes seguem em recuperação.
“Precisamos ouvir as palavras das pessoas na Terra. A natureza é a terra e são outros seres, e se não tivermos algum tipo de retorno espiritual ao nosso planeta, temo que seremos comprometidos”, disse Salgado certa vez em entrevista.
A carreira de Sebastião Salgado
Sebastião Salgado nasceu em 1944, na cidade de Aimoré (MG). Aos 24 anos se formou em economia. Anos depois, conquistou o título de doutor pela Universidade de Paris. Nos anos 1960 foi exilado e, por isso, mudou-se para a Europa.
Em princípio, a fotografia era apenas um hobby, mas o talento falou mais alto. Assim, tornou-se freelancer e produziu incontáveis reportagens fotográficas para agências internacionais como Gamma e Magnum.
No ano de 1981, como fotojornalista do jornal New York Times, ficou famoso por ser o único a registrar o atentado ao presidente Ronald Reagan, dos Estados Unidos.
Ao longo da carreira, publicou mais de 10 livros, como “Outras Américas”, de 1986, que retrata a vida dos camponeses latino-americanos. Em “Trabalhadores”, de 1993, abordou nuances do trabalho manual. Já os problemas agrários do Brasil foram retratados na obra intitulada “Terra”.
Salgado recebeu muitos prêmios. Entre eles estão “Fotografia Humanitária” (1982), Melhor Fotógrafo do Ano por duas associações americanas (1987), World Press (1985) e o prêmio Oscar Barnack (1985 e 1992), por exemplo.
Foi ainda eleito representante especial da Unicef e membro honorário da Academia das Artes e Ciências dos Estados Unidos. Já em 2019, recebeu o Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão. Esse é um dos eventos literários mais importantes da Alemanha. Salgado, de acordo com a premiação, é um artista que promove a justiça e a paz sociais e o debate sobre a proteção da natureza e do clima.