Campanha da Fraternidade 2021 critica governo e promove inclusão
Documento tradicional da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil traz assuntos relevantes e polêmicos em sua Campanha da Fraternidade 2021. Texto gerou revolta da camada conservadora da Igreja Católica.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), uma das maiores instituições católicas do país, lançou a sua campanha anual no último dia 12 de fevereiro, e desta vez o tema escolhido foi “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”, e trouxe debates sobre o apoio a grupo de minorias, como o movimento LGBQTia+, negros, indígenas, entre outros. A Campanha da Fraternidade de 2021 também fez críticas ao negacionismo da ciência em meio a pandemia da Covid-19.
O lema da campanha, segundo o CNBB, é “Cristo é a nossa paz. Do que era dividido fez uma unidade”, e esta é a primeira vez que Campanha de Fraternidade, importante na história da evangelização do Brasil, levanta pautas como essas. “A CFE 2021 quer convidar os cristãos e pessoas de boa vontade a pensarem, avaliarem e identificarem caminhos para a superação das polarizações e das violências que marcam o mundo atual”, afirmou a CNBB em nota oficial divulgada no site.
O que é a Campanha da Fraternidade?
A confederação que representa os bispos do país lança, todo ano, um tema como Campanha da Fraternidade nas Quarta-feiras de cinzas. Desta vez, o mote do texto traz “fraternidade” e “diálogo” em meio a uma sociedade polarizada, tanto no aspecto político, quanto nos “valores”.
O assunto apresentado em cada campanha normalmente é difundido nas celebrações e programações da comunidade religiosa ao longo do ano. Mas a adesão à campanha não é obrigatória. Desde o ano 2000, a escolha do tema acontece de modo ecumênico, ou seja, a busca pela união apesar das diferenças.
Campanha da Fraternidade 2021
O documento publicado pelo CNBB neste ano, que traz o tema “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”, causou controvérsias entre os religiosos conservadores, já que a campanha fala sobre a negação da ciência durante a pandemia, fazendo alusão ao atual governo de Bolsonaro, critica as Igrejas que não respeitam o distanciamento social, e, por fim, discorre sobre a “cultura da violência” contra mulheres, negros, indígenas e pessoas do grupo LGBTQia+.
“Para este ano, o tema escolhido foi o diálogo, com o tema, portanto, fraternidade e diálogo: compromisso de amor. Trata-se, como explicado nas formações feitas pelo nosso Setor de Campanhas, do recolhimento dos temas anteriores, em especial desde 2018, que tratou da superação da violência, até 2020, quando apresentou-se a proposta cristã do cuidado”, disse a CNBB em nota.
“Nosso país vive um tempo entristecedor, com tantas mortes causadas pela Covid-19, um processo de vacinação que gostaríamos fosse mais rápido e uma população que se cansou de seguir as medidas de proteção sanitária. Nosso coração de pastores sofre diante de tantas sequelas que surgem a partir da pandemia, em especial o empobrecimento e a fome”, ressaltou o documento.
Campanha defende grupo LGBQTia+ e outros
O texto da Campanha da Fraternidade 2021 toca em um dos assuntos que ainda é considerado “tabu” para uma parcela dos religiosos: a sexualidade. No entanto, a campanha deste ano aponta que o grupo sofre de “preconceito e intolerância, e são classificados como não cidadãos, portanto, inimigos do sistema”.
A campanha cita até mesmo o Atlas da Violência 2020, que traz números relevantes sobre a causa, como, por exemplo, o fato de que em 2018 “420 pessoas LGBTQia+ foram assassinadas, destas 164 eram pessoas transsexuais”. “Estes homicídios são efeitos do discurso de ódio, do fundamentalismo religioso, de vozes contra o reconhecimento dos direitos das populações LGBTQia+ e de outros grupos perseguidos e vulneráveis”, diz texto da Campanha da Fraternidade 2021.
Covid-19 e governo Bolsonaro
Uma das partes “polêmicas” da Campanha da Fraternidade 2021 é quando cita a condução do atual governo federal em meio a crisa da pandemia do novo coronavírus. Para o CNBB, “o governo brasileiro não adota políticas efetivas”, e que a pandemia “dilacerou famílias e deixou espaços vazios na cultura nacional”.
O texto diz ainda que “algumas igrejas reivindicaram o direito de permanecerem abertas, realizando suas celebrações, apesar das aglomerações causarem contaminações e mortes”. O negacionismo, uma das características do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), também aparece no documento.
“Discursos negacionistas sobre a realidade e fatalidade da Covid-19 são recorrentes, assim como a negação da ciência e do papel de organismos multilaterais como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial da Saúde (OMS)”.
CNBB responde conservadores
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou um posicionamento oficial em seu site após a divulgação da Campanha da Fraternidade 2021 causar reboliço entre a camada mais conservadora da Igreja. Confira abaixo uma parte da declaração da CNBB:
“Nos últimos dias, reações têm surgido quanto ao texto. Apresentam argumentos que esquecem da origem do texto, desejando, por exemplo, de uma linguagem predominantemente católica. Trazem ainda preocupações com relação a aspectos específicos, a saber, as questões de gênero, conforme os números 67 e 68 do referido texto.”
“A doutrina católica sobre as questões de gênero afirma que “gênero é a dimensão transcendente da sexualidade humana, compatível com todos os níveis da pessoa humana, entre os quais o corpo, a mente, o espírito, a alma. O gênero é, portanto, maleável sujeito a influências internas e externas à pessoa humana, mas deve obedecer à ordem natural já predisposta pelo corpo.”
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