Entenda o sucesso do livro “Torto Arado”, de Itamar Vieira Junior

A obra que retrata a vivência dos moradores do sertão brasileiro já vendeu mais de 70 mil exemplares desde seu lançamento.

“Torto Arado” pode ser considerado o sucesso literário do momento, ou pelo menos do começo do ano de 2021. Na primeira semana de fevereiro o livro de Itamar Vieira Junior vendeu mais de 70 mil exemplares. A obra foi lançada em agosto de 2019 e foi consagrado nos prêmios Oceanos 2020, Jabuti e Prêmio Leya de Literatura, em Portugal, onde foi publicado primeiro.

Segundo declarou o autor, ao receber o prêmio Oceanos, o livro “Torto arado é uma história de amor à terra que me foi narrada muitas vezes, por conta de meu trabalho como servidor (público), com camponeses, trabalhadores rurais, quilombolas, indígenas, assentados, acampados, ribeirinhos e comunidades tradicionais como um todo, ao longo de 15 anos.”. Conheça mais sobre a história da obra e seu sucesso no Brasil.

Torto Arado história

Livres
Paisagem do sertão nordestino (foto: reprodução/livres)

A obra de Itamar narra a história de vida dos trabalhadores rurais de Água Negra, uma fazenda na região da Chapada Diamantina, interior da Bahia, que não recebiam salários, apenas o direito de construir casebres e cultivar hortas nas terras. Todos eram descentes de negros, que foram escravizados. Contudo, para eles, a abolição da escravatura se deu apenas no papel.

O livro é dividido em três partes, a primeira é narrada por Bibiana; a segunda, por sua irmã, Belonísia e a última por uma entidade do jarê. A história gira em torno das irmãs, que quando crianças descobrem uma faca das coisas da avó, no evento em questão uma delas acaba decepando a língua por acidente. Por isso, uma se torna a voz da outra, traduzindo seus grunhidos para que a irmã se comunique. A obra, então, conta com o suspense, pois o leitor só descobre qual das irmãs perdeu a língua depois de ler boa parte do livro. Além disso, a literatura de Vierra retrata as desigualdades do Brasil e a luta pelos direitos da população sertaneja.

O nome do livro foi inspirado por um verso um verso de Marília de Dirceu, de Tomás António Gonzaga (1744-1810), que diz “A devorante mão da negra morte/(…)lhe arranca os frios ossos/ferro do torto arado.”

“Chamou minha atenção essa imagem de um arado torto velho, como se fosse um símbolo de uma realidade imutável, de um campo onde o arado ainda é instrumento de trabalho, apesar da mecanização brutal”, explicou Itamar em entrevista à Época.

Sucesso da obra

Livro torto arado
Itamar vieira junior ( foto: divulgação)

O livro teve um sucesso inesperado e seu boom ocorreu nos últimos três meses. Entre novembro de 2020 e janeiro de 2021 “Torto Arado” vendeu mais de 45 mil exemplares, mais de metade das vendas totais. As edições nacionais raramente ultrapassam a venda de 5 mil cópias.

Segundo reportagem da Piauí, o sucesso de vendas coincidiu com as citações que a obra teve nas redes sociais. As menções ao livro e ao autor trouxeram reconhecimento e engajamento à obra, que passou a ser mais buscada e vendida.

Entre agosto de 2019 e a segunda semana de fevereiro de 2021, a obra alcançou 41.854 interações no Facebook, enquanto Itamar Vieira Junior teve 49.568. No Instagram, houve 354.719 interações com o nome do livro e outras 281.426 com o nome de seu autor. Personalidades públicas, como Manuela D’ávila, também fizeram postagens da obra, que ajudam mais no engajamento. Em entrevista ao jornal Itamar Vieira reconhece que “A rede social cumpre o papel de boca a boca, nenhum autor pode ignorar esse fato na hora de lançar um livro”.

Imagem da capa

Livro torto arado
Inspiração para a capa do livro (foto: giovanni marrozzini)

A capa do livro é uma releitura de uma fotografia real, do fotografo italinao Giovanni Marrozzini. A foto original mostra duas mulheres negras, de mãos dadas e segurando facões. A obra faz parte da série “Nuovelle semence (2010)”, realizada em vilas no país de Camarões, em que o fotografo foi em comunidades florestais para retratar a vida e histórias dos moradores.

Na arte do livro, há um desenho das duas, mas segurando espadas de São Jorge. A imagem faz referencia à história das irmãs que é relatada no livro de Itamar Vieira.

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