O que foi a Semana de Arte Moderna: 5 pontos para entender
Entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 2022, comemora-se os 100 anos da Semana de Arte Moderna (ou Semana de 22), que movimentou a capital paulista e foi realizado no Theatro Municipal. O evento reuniu uma série de apresentações e exposições, um marco do início do Movimento Modernista em São Paulo e no Brasil e revelaou jovens artistas conectados com a vanguarda europeia. O evento foi duramente criticado, mas impulsionou mudanças importantes no cenário artístico.
O que foi a Semana de Arte Moderna?
Para a arte, 1922 foi um ano marcante. Marcou um século completo de independência de Portugal – e foi também o ano que colocou a arte brasileira no mapa internacional. Dos ateliês de artistas de São Paulo surgiu uma ideia: dedicar uma semana à arte moderna, para acompanhar as comemorações do centenário organizadas pelo governo.
Durante sete dias, artistas construíram, desconstruíram, performaram, esculpiram, deram palestras, leram poesia e criaram algumas das obras mais vanguardistas já vistas no Brasil. A ênfase da semana foi o modernismo – foram dadas palestras sobre arte moderna, novos estilos de música foram tocados e poemas difíceis foram lidos em voz alta. Entre as obras expostas na Semana de Arte Moderna estão poesias de Mário de Andrade, polêmicas pinturas art nouveau de Di Cavalcanti (artista associado ao movimento de decadência inglês e Oscar Wilde) e esculturas de Victor Brecheret. Eram figuras monumentais, arredondadas e fortes, com ênfase no naturalismo e na anatomia – figuras que pareciam muito humanas e muito sexuais para um mundo ainda não acostumado à arte ‘moderna’.
Hoje a Semana de Arte Moderna de 1922 é reconhecida como um momento crucial no desenvolvimento da arte moderna. Na época, porém, foi recebido com expressões de raiva, horror, medo ou escárnio.
Confira o resumo do que foi a Semana de Arte Moderna, realizada em 1922, em 5 acontecimentos:
Anita Malfatti trouxe o Modernismo para São Paulo em 1917
A Semana de Arte Moderna foi precedida pela Exposição de Pintura Moderna – Anita Malfatti, entre dezembro de 1917 e janeiro de 1918. O evento seria o estopim para a realização da Semana alguns anos depois. Na ocasião, 53 obras da pintora brasileira, que estudou na Europa e nos Estados Unidos, foram expostas.
A exposição foi criticada por Monteiro Lobato e pela elite conservadora paulista. No jornal O Estado de São Paulo, o escritor publicou o artigo “Paranoia ou mistificação?”. Por outro lado, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Di Cavalcanti e outros artistas ficaram impressionados com as obras modernistas.
A Semana de Arte Moderna foi patrocinada por membros da burguesia paulista
À época, o governador do estado de São Paulo era Washington Luís, que apoiou o movimento e patrocinou a participação dos artistas Plínio Salgado e Menotti del Picchia, do Rio de Janeiro, que também eram membros do Partido Republicano Paulista.
Além disso, o evento recebeu intenso apoio e patrocínio da burguesia industrial paulista, que estava se consolidando na capital paulista. Esse grupo criticava os hábitos de vida dos brasileiros e era fascinado pelo que acontecia na Europa. A Semana de Arte Moderna também foi patrocinada por artistas.
O evento provocou reações dos conservadores
O objetivo da Semana de Arte Moderna foi romper com o conservadorismo cultural da época. Os conservadores, no entanto, reagiram à realização do evento. A mídia chegou a se referir aos modernistas como “subversores da arte”, “espíritos cretinos e débeis” e “futuristas endiabrados”.
Monteiro Lobato foi um opositor ferrenho da arte moderna porque acreditava que “as artes são regidas por princípios imutáveis, leis fundamentais que não dependem do tempo nem da latitude”. Para ele, portanto, a arte não deveria ser dotada de liberdade de criação, já que tinha que seguir preceitos conservadores.
A Semana de Arte Moderna impulsionou grupos modernistas
Depois da realização da Semana de Arte Moderna, a liberdade de criação ganhou espaço entre os artistas brasileiros, o que contribuiu para o florescimento intelectual e artístico da época. Para Di Cavalcanti, no entanto, o evento ultrapassou as barreiras e influenciou também na política brasileira.
Obras fundamentais do Primeiro Modernismo foram lançadas depois da Semana de Arte Moderna por Oswald de Andrade, Mario de Andrade e Manuel Bandeira. O período foi descrito por Mario de Andrade como “a maior orgia intelectual que a história artística do país registrou”. O Tropicalismo e a Bossa Nova também foram influenciados pelo modernismo.
O público não gostou do que viu
A Semana de Arte Moderna foi aberta ao público e contou com exposições de artes plásticas, apresentações de dança e música, leitura de poemas e manifestos. No entanto, algumas atrações não agradaram os espectadores. “Os Sapos”, poema de Manuel Bandeira, foi vaiado.
O maestro Villa-Lobos também foi criticado ao entrar no palco calçando chinelo em um dos pés. O público considerou a atitude desrespeitosa, mas depois ficou esclarecido que o músico estava com um calo no pé, o que o impediu de calçar os sapatos.
Lista completa de artistas
Abigail de Andrade, Alberto da Veiga Guignard, Alfredo Volpi, Almeida Júnior, Alvim Corrêa, Anita Malfatti, Antonio Garcia Moya, Antonio Gomide, Antonio Paim Vieira, Artur Timótheo da Costa, Candido Portinari, Carlos Oswald, Cícero Dias, Eliseu d’Angelo Visconti, Emiliano Di Cavalcanti, Estevão Silva, Flavio de Carvalho, Gregori Warchavchik, Ignácio da Costa Ferreira (Ferrignac), Ismael Nery, Joaquim do Rego Monteiro, John Graz, Lasar Segall, Lívio Abramo, Manoel Santiago, Oswaldo Goeldi, Raimundo Cela, Regina Gomide Graz, Rodolfo Chambelland, Tarsila do Amaral, Valério Vieira, Vicente do Rego Monteiro, Victor Brecheret, Victor Dubugras, Wilheim Haarberg, and Zina Aita.
Resultados da Semana de Arte Moderna
Mesmo entre críticas, o evento inspirou discussões sobre arte moderna. Contrariando a cultura conservadora da época, os modernistas contrariaram os padrões acadêmicos e incitaram uma nova arte brasileira. Em busca de uma identidade nacional que se afastasse dos laços com a Europa, a ideia era “redescobrir” o Brasil e sua estética.
Dois anos após a Semana de Arte Moderna, em 1924, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e outros modernistas viajaram pelo país e se inspiraram na cultura popular brasileira . Era o início do período “pau-brasil”, referindo-se à árvore explorada no início do Brasil colonial. Essa árvore foi o primeiro produto brasileiro de exportação, disse Oswald, e por isso pretendiam criar uma arte nacional “exportável”. Eles usariam a arte para mostrar aos estrangeiros o que havia de especial em seu país.
Apesar de não receber muita atenção naquele fevereiro de 1922, a influência da Semana é inegável nos anos seguintes. Depois de algum tempo, a mudança revolucionária que esse evento significou para a arte brasileira foi reconhecida. Até hoje vemos sua influência na obra de artistas brasileiros. No início, a Semana de Arte Moderna foi considerada sem importância. Agora, é visto como um episódio fundamental para o desenvolvimento da arte brasileira no século XX.
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