Conheça a história da escritora Carolina Maria de Jesus
O título de Doutra Honoris Causa foi concedido à autora na última quinta-feira (25).
Carolina Maria de Jesus, uma das escritoras mais lidas do Brasil que já foi catadora de papel e moradora da favela em São Paulo, hoje é doutora. A autora, que faleceu em 1977, recebeu na quinta-feira (25) o título de doutor honoris causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Carolina desde pequena já tinha gosto pela literatura e começou a ser reconhecida em 1958, quando ainda morava na comunidade. Conheça a história da escritora.
Quem foi Carolina Maria de Jesus?
Carolina Maria de Jesus foi uma escritora negra, que antes de ser reconhecida foi catadora de papel e residente da favela do Canindé em São Paulo. Carolina, no entanto, nasceu em Sacramento, cidade pequena de Minas Gerais, próxima à região do Triangulo Mineiro, no ano de 1914. Seus pais, João Cândido e Dona Cota, eram analfabetos. Contudo, aos 7 anos, Carolina ingressou no Colégio Allan Kardec, onde ficou por apenas um ano e meio, tendo completado até o 2° ano do fundamental. Mas foi ali que aprendeu a ler, escrever e tomar gosto pela literatura.
“Ela, desde pequena, assumiu esta coisa da escrita e da leitura, então ela vivia lendo”, contou Tom Faria, escritor e biógrafo da Carolina Maria de Jesus ao Jornal Nacional.
Depois que sua mãe morreu, Carolina foi para São Paulo, aos 33 anos e grávida. Nesse momento, passou a residir na favela do Canindé, zona norte da cidade e se sustentava como catadora de papel. Além disso, como já gostava de escrever, ela aproveita os cadernos que recolhia nas ruas para fazer registros de sua vida. Ao longo de sua vida, Carolina nunca quis se casar, mas teve três filhos, Vera Eunice, José Carlos e João José, todos de relacionamentos distintos. Vera se tornou professora e contou à Ponte que sonha em fazer um acervo com as coisas de sua mãe para não deixar sua história morrer.
Como foi descoberta Carolina Maria de Jesus?
Em 1958, com a ajuda do jornalista Audálio Dantas, Carolina publicou seu primeiro livro, a partir de suas anotações em caderno. A obra foi batizada de “Quarto de despejo” e teve mais de 3 milhões de cópias vendidas em 13 idiomas. Com isso, a escritora viajou o Brasil e o mundo para seu lançamento. Além de ter conhecido outros autores famosos em sua jornada.
“Quando ela chega perto de Clarice Lispector, ela diz: você é uma grande escritora. E a Clarice responde: a grande escritora aqui é você, porque você escreve com a realidade”, contou Vera Eunice de Jesus, filha de Carolina, ao Jornal Nacional.
A partir do sucesso da obra, Carolina se mudou para Santana, bairro de classe média, na zona norte de São Paulo.
Em vida, a autora publicou mais três livros depois de “Quarto do desejo”, são eles: publicou ‘Casa de alvenaria: Diário de uma ex-favelada’, de 1961 e, dois anos depois, em 1963, publicou também ‘Pedaços de fome’ e ‘Provérbios’.
Quarto de despejo: diário de uma favelada
Seu livro mais famoso foi feito a partir de seus registros pessoais, que falavam do cotidiano de uma mulher, negra e moradora da favela. A obra tem uma linguagem simples, de fácil entendimento e se torna comovente por ser uma série de relatos difíceis e tristes dos fatos que Carolina viveu desde 15 de julho de 1955 até 1 de janeiro de 1960. O livro começa com o seguinte registro “15 de julho de 1955. Aniversário de minha filha Vera Eunice. Eu pretendia comprar um par de sapatos para ela.” e termina com “1.º de janeiro de 1960. Levantei às 5 horas e fui carregar água.”.
Quando morreu?
Carolina Maria de Jesus morreu em 1977, em um sítio localizado em Parelheiros, periferia da zona sul da capital paulista, onde morava desde 1969. A causa da morte foi insuficiência respiratória. Após falecer, outros seis livros ainda foram publicados, a partir de anotações e materiais deixados pela autora, são eles: Diário de Bitita(1977); Um Brasil para Brasileiros (1982); Meu Estranho Diário (1996); Antologia Pessoal (1996); Onde Estaes Felicidade (2014) e Meu sonho é escrever – Contos inéditos e outros escritos (2018).
Doutor Honoris Causa
O Doutor Honoris Causa, que foi concedido a Carolina, é um título honorífico, atribuído por universidades a pessoas eminentes, que são destaque em sua área de atuação, por exemplo arte, literatura, promoção de paz e serviço à população também pode render o Honoris Causa.
O título independe de grau de escolaridade ou instrução, ele é concedido para quem for referencia em sua área por sua virtude, mérito ou serviço prestado à humanidade. Aquele que recebe o Honoris Causa recebe o grau honorífico de doutor também.