Whitewashing: entenda o que significa o termo e a polêmica por trás dele
A escolha da atriz Gal Gadot para interpretar Cleópatra, a rainha do Egito, levanta, mais uma vez, a discussão sobre atores brancos vivendo personagens de outras etnias em produções culturais.
Na semana passada, a atriz israelense Gal Gadot – conhecida por seu papel como Mulher-Maravilha – publicou em suas redes sociais que irá viver nos cinemas Cleópatra, a poderosa rainha do Egito. O anúncio, no entanto, gerou polêmica e reacendeu o debate sobre a prática de whitewashing.
A palavra inglesa significa algo como “lavagem branca” ou ” embranquecimento”. De fato, o termo se refere ao hábito de produções culturais contratarem atores brancos para interpretar personagens que pertencem a outras etnias, como negros, asiáticos e latinos, por exemplo.
A crítica, então, se deve à escalação de uma atriz de pele clara para interpretar uma importante figura da história do continente africano. Ainda assim, há quem defenda a escolha alegando que Cleópatra tinha descendência grega. Outros acreditam que o discurso sobre o whitewashing seria, na verdade, apenas uma forma de disfarçar pensamentos antissemitas (aversão a judeus). Isso porque Gadot é israelense.
No Twitter, a atriz contou que será também uma das produtoras do novo filme. Além disso, o longa terá a direção de Patty Jenkins, que está à frente da franquia de Mulher-Maravilha. Gadot disse que a vida da rainha do Nilo será retratada “pelos olhos das mulheres, tanto atrás quanto na frente das câmeras”.
Casos famosos de whitewashing
Apesar de toda a discussão em torno do novo filme, essa não é a primeira vez que uma atriz branca dá vida à Cleópatra. Afinal, em 1963, chegou aos cinemas a versão do diretor Joseph L. Mankiewicz que trazia Elizabeth Taylor como protagonista.
Já nos últimos anos, vimos diversos exemplos considerados como embranquecimento nas produções de Hollywood. Em 2010, o francês Gérard Depardieu, branco e de olhos azuis, recebeu maquiagem e peruca para interpretar Alexandre Dumas em L’Autre Dumas. O escritor, entretanto, era negro, o que desencadeou reações contrárias de muitos ativistas. Na época, os produtores disseram que Depardieu foi escalado por conta de sua vivacidade.
Em 2018, estreou nas telonas A Grande Muralha. Ainda que o cenário seja um dos maiores símbolos da China, o papel principal do filme é de Matt Damon. Seu personagem, britânico, se torna herói ao liderar uma tropa de elite que luta contra monstros taotie, da mitologia chinesa.
Quem também se envolveu em controvérsias raciais foi a norte-americana Scarlett Johansson. Isso por conta de sua participação no longa A Vigilante do Amanhã: Ghost In The Shell. A Major Motoko Kusanagi, personagem de Johansson, era, originalmente, uma ciborgue japonesa. Ou seja, a ausência de qualquer traço da etnia levou o público a acusar a produção de cometer whitewashing.
A prática em novelas brasileiras
O embranquecimento não é uma prática exclusiva de produções internacionais. Aqui no Brasil algumas novelas também já dividiram opiniões e receberam críticas por privilegiar elencos de pele clara ou ocidentais.
Esse foi o caso, por exemplo, de Sol Nascente, que estreou em 2016. Apesar de ter no enredo protagonistas de origem japonesa, os atores Luís Melo e Giovanna Antonelli não possuem traços da etnia. O fato gerou pedidos de movimentos raciais por maior presença de artistas nipônicos nas produções de televisão e cinema.
Por fim, outra polêmica envolveu a novela Segundo Sol, de 2018. A trama se desenrolava na Bahia, mas tinha poucos atores negros, principalmente nos papéis principais. Assim, o Ministério Público do Trabalho (MPT) enviou à Rede Globo uma notificação que recomendava a devida representação racial na obra.